Novo coordenador do Enem é acusado de plágio
Murilo Resende, autor da afirmação "professor não gosta de estudar de verdade", fala em "tradução adaptada"
Murilo Resende Ferreira, escolhido para coordenar o Enem no governo de Jair Bolsonaro (PSL), foi acusado de plágio. “A Escola de Frankfurt: Satanismo, Feiúra e Revolução”, publicado no site Estudos Nacionais, em 2018, e assinado por ele, é muito semelhante ao texto “The New Dark Ages: The Frankfurt School and ‘Political Correcteness”, de Michael Minnicino, publicado na revista “Fidelio”, do Schiller Institute, em 1992.
Os que perceberam a semelhança afirmam, pelas redes sociais, que Murilo Resende traduziu o artigo de Minnicino e trocou os nomes dos citados – Benny Goodman é substituído por Caetano Veloso, por exemplo – sem dar o crédito ao original.
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O doutor em Direito pela USP e pesquisador do Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informação da UFPR (Gedai), Guilherme Coutinho Silva, foi ouvido pela revista “Veja” sobre o caso. Segundo o especialista, o fato de não haver uma definição do que é original pode ser considerado plágio.
No texto, o novo coordenador do Enem não se apresenta tradutor. Para isso, ele deveria citar o artigo de 1992 como fonte do seu escrito.
“A adaptação não é plágio quando ela é licenciada e clara”, disse. “Tem que ficar claro para o leitor que se trata de uma adaptação. Via de regra, também é preciso de licença do autor original para adaptar um texto. Uma análise crítica não precisaria de licença, mas casos de adaptação e tradução, sim. Esse caso pode ser caracterizado como plágio ou como infração do direito autoral do autor principal”
“Nossa legislação permite que se faça citação de trechos de obras sem autorização do autor, mas é preciso mencionar de forma clara para o leitor que aquele texto não é seu, e sim uma versão”, explicou Coutinho à reportagem da “Veja”.
Outro lado
Ainda segundo a “Veja”, Murilo Resende classificou o seu artigo como “tradução adaptada” e se diz vítima de uma campanha de difamação. “Se tivesse publicado como tradução não faria sentido, pois recortei, adaptei e comentei o texto, com a intenção de enfatizar a relação entre os frankfurtianos e a mídia moderna”, disse.
Professor não gosta de estudar de verdade
Murilo Resende está na diretoria do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), entidade responsável pelo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e por outros exames oficiais do governo.
Ex-aluno de escola privada, ele afirmou que deve o seu amadurecimento intelectual aos ensinamentos de Olavo de Carvalho. “Devorei a obra de Olavo de Carvalho, que me preservou de meu fanatismo original pelas ideias libertárias da Escola Austríaca de Mises e Rothbard”, declarou.
Adepto do movimento Escola sem Partido, Murilo Resende atribuiu aos professores e ao marxismo a responsabilidade pela qualidade ruim da educação brasileira e disse que “professores não gosta de estudar de verdade”. As afirmações foram feitas em uma audiência no Ministério Público Federal sobre “Doutrinação Político-partidária no Sistema de Ensino”, em 2016.
De acordo com texto publicado em “O Globo”, Resende disse que os professores no país pregam o aborto, incesto e pedofilia, mas que tentam escamotear suas intenções, driblando a confiança dos pais.
Abaixo, leia alguns trechos dadas na audiência no Ministério Público Federal.
“Então ideologia de gênero, que hoje é o grande cavalo de batalha desses manipuladores, sim, gente que não quer estudar de verdade, que sequer conhece a literatura, sequer conhece a filosofia.”
“Não se conta isso para os pais, essa é a farsa de vocês. Vocês falam: ah, é simplesmente uma questão de respeito em relação aos homossexuais. É só isso o que a gente quer ensinar.”
“O que os professores estão querendo com isso é poder. Um poder que eles querem roubar e sequestrar da família.”
“Com a redemocratização, esse aparelhamento brutal e ditatorial avançou inclusive para lugares como a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o MEC. (…) Precisa de uma reforma absurda, completa, para limpar todas essa contaminação ideológica até o ponto em que os professores voltem a se preocupar com a sala de aula, e não só com filosofia da educação, ficar discutindo Paulo Freire e a criança do futuro que será um jovem socialista.”