‘O povo não merece isso’, diz Lula, na prisão, sobre Bolsonaro
Em entrevista à Folha de S.Paulo e ao El País, a primeira após ser preso, o ex-presidente falou sobre as acusações, a morte do neto e o atual governo
Em entrevista exclusiva à Folha de S.Paulo e ao jornal El País, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre a morte do neto, a vida na prisão, o governo de Jair Bolsonaro (PSL), das acusações de corrupção e da possibilidade de nunca mais ser solto. Segundo ele, o Brasil está sendo governado por “um bando de louco”.
A entrevista, a primeira após a prisão de Lula, em 7 de abril de 2018, foi alvo de uma batalha judicial e chegou a ser censurada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A decisão foi revista na semana passada pelo presidente da corte, Dias Toffoli, e o petista foi autorizado a receber os dois veículos em uma sala preparada pela Polícia Federal na sede do órgão em Curitiba, onde está preso.
O ex-presidente foi colocado em uma mesa a uma distância de quatro metros dos jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas presentes. De acordo com a PF, o protocolo de segurança é comum a todos os presos. A conversa durou duas horas e dez minutos no total.
Questionado sobre a possibilidade de nunca mais sair da prisão, Lula respondeu que “não tem problema”. “Eu tenho certeza de que durmo todo dia com a minha consciência tranquila. E tenho certeza de que o Dallagnol não dorme, que o [ministro da Justiça e ex-juiz Sergio] Moro não dorme.”
“Sei muito bem qual lugar que a história me reserva. E sei também quem estará na lixeira”, reiterou, segundo o El País. “Reafirmo minha inocência, comprovada em diversas ações. (…) Fico preso cem anos. Mas não troco minha dignidade pela minha liberdade.”
Ao comentar sobre o atual presidente, afirmou que “ou ele constrói um partido sólido, ou não perdura”. Segundo Lula, a elite brasileira deveria fazer uma autocrítica após a eleição de Bolsonaro. “Vamos fazer uma autocrítica geral nesse país. O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco que governa o país. O país não merece isso e sobretudo o povo não merece isso”, reiterou.
O ex-presidente comparou o tratamento que a imprensa dá a ele com o que destina a Bolsonaro. “Imagine se os milicianos do Bolsonaro fossem amigos da minha família?”, disse em referência ao fato de o filho do atual presidente, Flávio Bolsonaro, ter empregado familiares de um miliciano foragido da Justiça em seu gabinete quando era deputado estadual pelo Rio de Janeiro.
Sobre a morte do neto Artur, de 7 anos, há um mês, Lula chorou e declarou: “Eu às vezes penso que seria tão mais fácil que eu tivesse morrido. Eu já vivi 73 anos, poderia morrer e deixar o meu neto viver”.
Leia a entrevista na íntegra na Folha e no El País.