A história de Mário Gatica: segurança e professor

31/01/2010 01:00 / Atualizado em 01/02/2010 14:23

arquivo pessoalMário Gatica
Mário Gatica

Quem se deparar com Mário Gatica, óculos escuros, terno preto, alto, musculoso, lutador de artes marciais, cuidando da segurança de uma casa noturna da rua Augusta, jamais poderia imaginá-lo professor de filosofia de escola pública.“Gostaria apenas de dar aulas” – apesar de algumas vezes ele se sentir mais vulnerável fisicamente dentro de uma escola do que evitando brigas ou assaltos na madrugada.

O magistério é seu grande projeto desde a adolescência, mas se vê obrigado a complementar sua renda na noite. Na condição de temporário, ele passou na prova de conhecimentos aplicada pela rede estadual de São Paulo: 40% dos candidatos foram reprovados, mesmo com o benefício de usar o tempo de serviço como parte da nota.

Muitas gorjetas superam o que ele recebe por hora em sala de aula – o que acabou interessando colegas na escola. Professoras pediram um bico de garçonete.

Mesmo que não fosse dublê de segurança e professor, Mário, que se graduou em história e está no último ano de uma faculdade de filosofia, seria uma raridade. É o que se vê num alarmante levantamento com jovens brasileiros sobre os desejos profissionais.

Idealizada pela Fundação Victor Civita e  realizada pela Fundação Carlos Chagas, a pesquisa integra  um relatório sobre a atratividade da carreira do professor. As entrevistas foram focadas apenas em jovens que estão concluindo o ensino médio e estão decidindo sua carreira: apenas 2% deles querem ser professores.

Entre os que estão nas escolas privadas, a taxa cai para próximo de zero.  Suas opções são, pela ordem, direito, engenharia, e medicina.

** Trecho da coluna publicada no jornal Folha de S. Paulo

A pesquisa entrevistou 1.501 alunos, de 3º ano, de 18 escolas públicas e privadas do Brasil.
– A pesquisa revelou que somente 2% dos alunos do Ensino Médio têm a pedagogia ou alguma licenciatura como opção principal no vestibular.
– Uma das descobertas mais alarmante da pesquisa é que os futuros professores são recrutados entre os alunos com piores notas no Ensino Médio.
– Um terço dos jovens entrevistados (32%) pensou em ser professor, mas desistiu.
– As principais razões para a baixa atratividade da carreira docente no Brasil são: profissão é desvalorizada socialmente, é mal-remunerada e a rotina é muito desgastante.