O universo onírico de Marina Ayra

Por: Catraca Livre

Marina Ayra tem 30 anos, é formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAAP e pós-graduada em Design pela mesma instituição. Em 2009, ela resolveu se aventurar em uma residência artística em Paris, através do Programa de Residência Artística da FAAP na Cité Internationale des Arts, que promove trocas de experiência entre artistas do mundo inteiro. Ela desenvolveu uma exposição na França chamada “Dans mes rêves” (Nos meus sonhos) e depois trouxe uma parte dessa produção para o 41ª Anual de Arte FAAP, em janeiro de 2010. “Sinto que a exposição foi uma forma de devolver à Paris um pouco do que ela me deu”, afirma Marina.

A exposição em Paris era formada por 13 desenhos e materiais diversos – cadernos, recortes, anotações, fotografias. Marina reuniu poemas que escrevia ou encontrava pelo caminho, impressões e lembranças dos seis meses que passou na residência. “Nos meus primeiros trabalhos, o foco era o mundo lá fora. Eu desenhava a cidade, o poste, as pessoas, as árvores. Agora estou olhando para dentro de mim e o resultado é uma mistura de fadas com colagens; de palavras que invento com o que está escrito no papel de pão”, diz Marina, que combina diversas técnicas em suas obras, como lápis de cor, tinta acrílica, colagem, grafite, esferográfica e nanquim. Marina registrou sua experiência no blog www.marinaayra.blogspot.com

Pablo de Souza
Uma das obras de Marina

Em seus desenhos, Marina trabalha principalmente a linha, a luz, a cor e o enquadramento. Influenciada pela Escola de Arquitetura e Urbanismo, ela tem um olhar voltado pra cidade, pras experiências urbanas e para as trocas que existem entre as pessoas e o lugar onde elas habitam. Paulistana, ela já desenvolveu um trabalho sobre a Avenida Angélica, em Higienópolis. “Eu tinha a impressão de que iria desenhar Paris como desenhei São Paulo, porém, as diferenças entre essas duas paisagens, essas duas maneiras de viver, me fez ver e sentir coisas muito diferentes das que senti na cidade que vivi minha vida toda. Assim, comecei a me libertar de uma maneira muito produtiva, o desenho fala muito de Paris, mas não das ruas, dos postes, das casas e calçadas, fala do que ela despertou dentro de mim”, diz Marina.

Marina Ayra

Os desenhos feitos em Paris falam do rebuliço interior da artista durante a residência, do universo despertado pela nova língua, pela nova comida, pelos detalhes art nouveau que viu por lá e da relação dos franceses com a arte. “Paris tem uma coisa muito interessante, as pessoas parecem ter uma outra relação com a arte – ela parece fazer realmente parte da vida das pessoas, desde criança. É uma coisa muito natural visitar exposições uma vez por semana ou ir a eventos culturais. O incentivo a tudo isso lá é muito grande e muito bem divulgado também. Isso nos leva a respirar num ambiente artístico o tempo todo, o que acaba fazendo o trabalho estar sempre vivo”, afirma Marina.

Para Marina, viver de arte ainda é um sonho distante da maioria dos jovens artistas brasileiros. Ela, que também trabalha como produtora cultural e designer gráfico, acha que as residências artísticas são importantes por permitir que, pelo menos por um período, o artista se dedique exclusivamente ao seu trabalho. “A experiência que tive em Paris foi numa situação muito específica de trabalho: ganhei um concurso (bolsa, atelier-residência e uma ajuda de custo) da Fundação Armando Álvares Penteado pra ir pra lá. Minha única preocupação era desenvolver meu trabalho artístico, sem ter que pensar no aluguel, nas contas etc. Isso faz o trabalho fluir em outra velocidade”, diz ela.

Marina tem uma palestra e exposição confirmadas no SESC Arsenal, em Cuiabá, entre os dias 9 de julho a 22 de agosto de 2010.