Onde está o rap na Virada Cultural?

Devido à falta de divulgação do rap na Virada Cultural, o Catraca Livre abre espaço para o blog Per Raps, e coloca na íntegra, um texto que fala mais sobre o assunto.

Imagem da Virada Cultural 2008

Do blog Per Raps

A Virada Cultural, que já se consagrou como o maior e mais democrático evento cultural de São Paulo, chega no sábado, 2, à sua quinta edição. E, desta vez, o hip hop tem um espaço bem reduzido em relação às edições anteriores. Menor do que no ano passado, quando foi destacado um palco apenas com shows de rap no Pq. Dom Pedro, e menor do que em 2007, quando o grupo Racionais MC’s foi a atração principal do evento, em show realizado na Praça da Sé.

Nos dois anos anteriores, como muitos já sabem, diversos problemas ocorreram e contribuíram para um certo “esgotamento da relação” entre Virada e hip hop. O incidente com o show dos Racionais na Virada de 2007 funcionou como estopim para essa situação e trouxe prejuízos incalculáveis à cena, que agora se vê encurralada quando a organização dos eventos está nas mãos de pessoas que não acompanham o movimento.

“Já se passaram dois anos do fatídico ocorrido, e acredito que deverão passar mais dez pros curadores desse evento tratarem o rap com respeito novamente. No ano passado eles isolaram os grupos de rap em um lugar de difícil acesso e ainda revistaram todos, como se o rap estivesse de quarentena” afirma o rapper Macário, do Projeto Manada, que está bem ligado com o que rola no cenário do rap. “Salvo pequenas exceções, como o Marcelo D2 e o Costa a Costa, que tocaram em palcos independentes, o resto do rap ficou de castigo!”, conclui.

O Dj Cortecertu, do portal Bocada Forte, acredita que não existe um único responsável pelos incidentes. “Ninguém pode colocar a culpa no rap e simplesmente excluí-lo, são vários fatores sociais, educacionais, econômicos e culturais que transformam tudo num barril de pólvora. Algo além do rap”, afirma.

O Dj Cortecertu em entrevista com o Dj Zaga
por Larissa de Castro

Agora, em 2009, o hip hop não foi totalmente esquecido. Porém, as poucas apresentações que irão rolar* foram descentralizadas para os arredores da cidade e acabam descaracterizando o grande diferencial da Virada, que é unir as pessoas no centro de São Paulo. O espaço supostamente reservado ao hip hop, no Largo São Bento, tem o seguinte texto de apresentação no site da programação da Virada Cultural: No saudoso ponto de encontro das equipes de break e do old school, uma pista apresentada pelo MC Thaíde dedicada a celebrar a eterna ligação do movimento com a São Bento.

Ponto positivo para a escolha de Thaíde, um dos maiores representantes do hip hop brasileiro. O problema é que, no line-up de Dj’s, acompanhando as descrições de cada um no próprio site, podemos ver que pouquíssimos possuem identidade com o movimento hip hop. Nada contra os Dj’s. Mas pra que divulgar como uma pistadedicada a celebrar a eterna ligação do movimento com a São Bento?

O MC Rodrigo Brandão, do Mamelo Sound System, que também produz eventos, ajuda a formular uma resposta. “Pra mim, é evidente há alguns anos a campanha pela marginalização de toda e qualquer manifestação que possa ser considerada ‘perigosa’ por aqueles que decidem o que o povo vai ver, ouvir, fazer e comer – seja rap, pixo ou o caraio aquático. Só que, em operação típica da era corporativista que vivemos, esse procedimento, em geral, ocorre de maneira dissimulada. Não se trata de uma guerra assumida, e sim na surdina”.

O jornalista André Maleronka, antenado ao mundo da cultura de rua e ao hip hop, tem uma opinião parecida: “É tudo feito como maquiagem, coisa típica de governo de direita. A Virada é um evento essencial, mas aí são os ‘produtores culturais’ que definem o que é culturalmente interessante pras pessoas? Não deveria ser assim”, afirma. Para ele, a solução seria destacar curadores específicos para cada setor da Virada. “O rap brasileiro está cheio de artistas bons, que lançaram ótimos trabalhos ultimamente e, pelo visto, disso eles não entendem nada. Imagina uma Rinha dos MC’s na Virada? Ia ser muito bom”, sugere.

Afrika Bambaataa foi uma das atrações do palco rap em 2008
por Daigo Oliva

Por que o hip hop não está participando de maneira efetiva da edição deste ano? As respostas são várias, e algumas delas difíceis de ser encontradas. Entramos em contato com a assessoria de imprensa que cuida da Virada Cultural, e nos informaram que, para participar, os artistas deveriam ter se inscrito com certa antecedência. Devido ao pouco tempo que tivemos para investigar, não temos nenhum parâmetro para afirmar se muitos se inscreveram, se sabiam que tinham que se inscrever…

A Virada Cultural continua sendo um evento maravilhoso, recheado de atrações tentadoras. Nossa ‘bronca’ não tem a intenção de desmerecer o evento, em hipótese alguma, já que nós do Per Raps e provavelmente todos os leitores que são de São Paulo devem participar da festa. O que propomos é uma reflexão sobre o tema e sugestões que incentivam a melhora, a evolução.

Conclusão 1: A programação deste ano está pronta, o evento é no próximo sábado e não há o que mudar. Conclusão 2: A Virada Cultural é um grande evento, mas será que o rap não merecia mais espaço do que lhe foi destinado este ano? É isso, Prefeitura. A cultura hip hop está se organizando e prestando atenção no que vocês fazem. Que seja destinada a devida atenção ao que a cultura hip hop anda fazendo. Ano que vem está aí. O hip hop está ai!

*Hip Hop na Virada Cultural – Programação

SÃO BENTO
“No saudoso ponto de encontro das equipes de break e do old school, uma pista dedicada a celebrar a eterna ligação do movimento com a São Bento”.
18h00 – Angel Keys
19h00 – Grand Master Ney
21h00 – Celcinho Double C
23h00 – Marks
01h00 – Renatinho
03h00 – Flash
05h00 – Betão Grooves
07h00 – Paulão
09h00 – André Child
10h00 – Lil Lipe
11h00 – Cinara
13h00 – Cesar African People
15h00 – Heron
17h00 – Magoo
CEU – AZUL DA COR DO MAR – Rua Olga Fadel Abarca, s/nº – Vila Aricanduva / Cidade Líder
19h00 – Max BO
CEU – FEITIÇO DA VILA – Rua Feitiço da Vila, s/nº – Chacara Sta Maria – Capão Redondo
18h30 – RZO
CEU – GUARAPIRANGA – Estrada da Baronesa, 1120 – Jd Angela
18h30 – DMN
CEU – SÃO MATHEUS – Rua Curumatim, 201 – Pq. Boa Esperança / Iguatemi
18h30 – Nelson Triunfo
CEU – VILA DO SOL – Avenida dos Funcionários Públicos, 369 – Jd Angela
18h30 – Kamau
AV. SÃO JOÃO – Avenida  São João, Praça Júlio Mesquita
03h00 – Tim Maia Racional (1975) – Instituto, Bnegão, Kamau, Thalma de Freitas e Carlos Daf