Opinião: o dinheiro clandestino das Fake News de Bolsonaro

As milícias digitais estão realizando um eficaz serviço a favor de Jair Bolsonaro.

Na falta de horário de televisão e  estruturas de apoio nas cidades,  Jair Bolsonaro, montado em um partido até então desconhecido e nanico – o PSL-  consegue aparecer no celular  e nas telas de computador de dezenas de milhões.

Seus ataques povoam os comentários nas redes sociais, atemorizando com suas ofensas e ameaças. Mas sua força mesmo se revelou na disseminação de Fake News.

As milícias aparecem em todos os poros das redes sociais, agregada de voluntários. A maior parte está no WhatApp, onde as mensagens são secretas.  Ficou mais difícil usar o Facebook e mesmo o Twitter, que desenvolveram mecanismos para detectar e eliminar perfis falsos.

O Tribunal Superior Eleitoral ( TSE) fixou regras que dificultavam a manipulação do Facebook e Twitter, proibindo, por exemplo, impulsionamento fora dos partidos e das candidaturas.

Em 2017, Catraca Livre fez uma investigação revelando, em detalhes,  a disseminação de Fake News nas redes sociais – suas denúncias ajudaram a tirar do ar algumas páginas. Portanto, o esquema já estava manjado.

Há quatro meses, o Facebook tirou do ar perfis associados a Jair Bolsonaro. Robôs foram desenvolvidos para captar Fake News. A imprensa montou um gigantesco para apurar as mentiras e divulgá-las rapidamente. Até se criou uma associação dos veículos de comunicação, batizado de Projeto Comprova.

O buraco, porém, estava mais embaixo e se chama WhatsApp. Bolsonaro já está com um pé na presidência. E deve seu eleição em parte a esse aplicativo.

A Folha de S. Paulo descobriu um esquema  de empresários bancando ilegalmente campanhas anti-PT usando o WhatsApp.

“Empresas estão comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp e preparam uma grande operação na semana anterior ao segundo turno.

A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada.

Folha apurou que cada contrato chega a R$ 12 milhões e, entre as empresas compradoras, está a Havan. Os contratos são para disparos de centenas de milhões de mensagens.”

Segundo o jornal, as  empresas  compram pacotes de “disparo em massa”.  Elas “usam a base de usuários do próprio candidato ou bases vendidas por agências de estratégia digital. Isso também é ilegal, pois a legislação eleitoral proíbe compra de base de terceiros, só permitindo o uso das listas de apoiadores do próprio candidato (números cedidos de forma voluntária).”

A Folha afirma que uma das agências envolvidas nos disparos em massa de mensagens usam um truque para driblar as proibições do WhatsApp, utilizando números de celular de fora do Brasil.

” A Folha apurou com ex-funcionários e clientes que o serviço da AM4 não se restringe a isso. Uma das ferramentas usadas pela campanha de Bolsonaro é a geração de números estrangeiros automaticamente por sites como o TextNow.

Funcionários e voluntários dispõem de dezenas de números assim, que usam para administrar grupos ou participar deles. Com códigos de área de outros países, esses administradores escapam dos filtros de spam e das limitações impostas pelo WhatsApp —o máximo de 256 participantes em cada grupo e o repasse automático de uma mesma mensagem para até 20 pessoas ou grupos.”

Essa investigação é apenas um fio de uma das melhores histórias a serem contadas nestas eleições: o funcionamento das milícias digitais.

Mas já podemos afirmar com toda certeza que o WhatsApp é um dos fatores responsáveis pela vitória de Bolsonaro.