Para procuradores, nomeação de Moro no governo ‘queimou’ a Lava Jato

Indicação de Sérgio Moro ao Ministério da Justiça motivou criticas de procuradores da Operação Lava Jato, segundo novas mensagens vazas pelo The Intercept

29/06/2019 12:14

De acordo com as novas mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil neste sábado, 29, procuradores do Ministério Público Federal e integrantes da Lava Jato não pouparam críticas a Sérgio Moro. Também reclamaram da postura do atual ministro da Justiça.

Na nova publicação, em 31 de outubro, um dia antes de Moro anunciar que assumiria o cargo político, a procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em Curitiba, ressaltou que a atitude reforçaria a “parcialidade e partidarismo” do ex-juiz.

“Temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão”, escreveu o procurador Deltan Dallagnol
“Temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão”, escreveu o procurador Deltan Dallagnol - Agência Brasil

Laura Tessler, também procuradora da força-tarefa, concordou com a afirmação, alegando que, se confirmada a transição de Moro para o ministério, “o discurso vai pegar. Péssimo. E Bozo (se referindo ao presidente Jair Bolsonaro) é muito mal visto. E juntar a ele vai queimar o Moro.” Viecili completou: “E queimando o Moro queima a Lava Jato”.

A decisão de Moro, segundo o novo vazamento de mensagens, também desagradou outros procuradoras da Lava-Jato – que, segundo eles, poderia levantar questionamentos éticos e reforçar a crítica de que a operação seria movida por razões políticas.

 Moro, o inquisitivo

Em conversa no 1ºde novembro de 2018, a procuradora Monique Cheker, das cidades de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, lamentou uma possível confirmação de Moro no Ministério Justiça – que comprometeria a legitimidade e legado da Lava Jato.

Ainda criticou Sérgio Moro, chamando atenção para o fato do paranaense ser “é “inquisitivo e sempre viola o sistema acusatório” – e completou ressaltando que o MPF do Paraná “sempre tolerou isso pelos ótimos resultados alcançados pela Lava Jato”.

Em outro grupo, a procuradora Thaméa Danelon, membro da operação em São Paulo, perguntou a opinião dos colegas a respeito da decisão de Moro. O procurador José Augusto Simões Vagos, da operação no Rio de Janeiro, classificou como “inoportuno”, e o Sérgio Luiz Pinel Dias, também da Lava Jato fluminense respondeu:

“Mas será difícil, muito difícil, hoje, e provavelmente no futuro, com a assunção de Moro ao Ministério da Justiça, afastar a imagem de que a Lava Jato integrou o governo de Bolsonaro”.

Encontro com Bolsonaro

Ainda de acordo com as novas mensagens, o encontro de Moro com então presidente eleito, Jair Bolsonaro, não foi bem recebido pelos procuradores.

Isabel Cristina Groba Vieira, da Lava Jato em Curitiba, reprovou o encontro de Moro uma semana antes do então juiz participar do interrogatório do ex-presidente Lula. “É o fim ir se encontrar com Bolsonaro e semana que vem ir interrogar o Lula”. Já para o procurador Antônio Carlos Welter, a postura de Moro era “incompatível com a de juiz”.

Dallagon demonstrou preocupação com nomeação de Moro 

Na época em que o Moro aceitou o convite de Bolsonaro, o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, compartilhou receios com a colega Janice Ascari: “Temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão. Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do corpo que isso possa tomar na opinião pública”.

A preocupação se deu, sobretudo, porque, para ele, Moro e a Lava Jato “estão intimamente vinculados no imaginário social, então defender o Moro é defender a Lava Jato e vice-versa”.