Para procuradores, nomeação de Moro no governo ‘queimou’ a Lava Jato

Indicação de Sérgio Moro ao Ministério da Justiça motivou criticas de procuradores da Operação Lava Jato, segundo novas mensagens vazas pelo The Intercept

De acordo com as novas mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil neste sábado, 29, procuradores do Ministério Público Federal e integrantes da Lava Jato não pouparam críticas a Sérgio Moro. Também reclamaram da postura do atual ministro da Justiça.

Na nova publicação, em 31 de outubro, um dia antes de Moro anunciar que assumiria o cargo político, a procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em Curitiba, ressaltou que a atitude reforçaria a “parcialidade e partidarismo” do ex-juiz.

“Temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão”, escreveu o procurador Deltan Dallagnol
Créditos: Agência Brasil
“Temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão”, escreveu o procurador Deltan Dallagnol

Laura Tessler, também procuradora da força-tarefa, concordou com a afirmação, alegando que, se confirmada a transição de Moro para o ministério, “o discurso vai pegar. Péssimo. E Bozo (se referindo ao presidente Jair Bolsonaro) é muito mal visto. E juntar a ele vai queimar o Moro.” Viecili completou: “E queimando o Moro queima a Lava Jato”.

A decisão de Moro, segundo o novo vazamento de mensagens, também desagradou outros procuradoras da Lava-Jato – que, segundo eles, poderia levantar questionamentos éticos e reforçar a crítica de que a operação seria movida por razões políticas.

 Moro, o inquisitivo

Em conversa no 1ºde novembro de 2018, a procuradora Monique Cheker, das cidades de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, lamentou uma possível confirmação de Moro no Ministério Justiça – que comprometeria a legitimidade e legado da Lava Jato.

Ainda criticou Sérgio Moro, chamando atenção para o fato do paranaense ser “é “inquisitivo e sempre viola o sistema acusatório” – e completou ressaltando que o MPF do Paraná “sempre tolerou isso pelos ótimos resultados alcançados pela Lava Jato”.

Em outro grupo, a procuradora Thaméa Danelon, membro da operação em São Paulo, perguntou a opinião dos colegas a respeito da decisão de Moro. O procurador José Augusto Simões Vagos, da operação no Rio de Janeiro, classificou como “inoportuno”, e o Sérgio Luiz Pinel Dias, também da Lava Jato fluminense respondeu:

“Mas será difícil, muito difícil, hoje, e provavelmente no futuro, com a assunção de Moro ao Ministério da Justiça, afastar a imagem de que a Lava Jato integrou o governo de Bolsonaro”.

Encontro com Bolsonaro

Ainda de acordo com as novas mensagens, o encontro de Moro com então presidente eleito, Jair Bolsonaro, não foi bem recebido pelos procuradores.

Isabel Cristina Groba Vieira, da Lava Jato em Curitiba, reprovou o encontro de Moro uma semana antes do então juiz participar do interrogatório do ex-presidente Lula. “É o fim ir se encontrar com Bolsonaro e semana que vem ir interrogar o Lula”. Já para o procurador Antônio Carlos Welter, a postura de Moro era “incompatível com a de juiz”.

Dallagon demonstrou preocupação com nomeação de Moro 

Na época em que o Moro aceitou o convite de Bolsonaro, o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, compartilhou receios com a colega Janice Ascari: “Temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão. Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do corpo que isso possa tomar na opinião pública”.

A preocupação se deu, sobretudo, porque, para ele, Moro e a Lava Jato “estão intimamente vinculados no imaginário social, então defender o Moro é defender a Lava Jato e vice-versa”.