Petição cobra Twitter por consentir com ataques a repórter
Coletivo Jornalistas Contra o Assédio lançou abaixo-assinado, na Change.org, exigindo responsabilidade da rede social contra discursos de ódio
O coletivo Jornalistas Contra o Assédio lançou um abaixo-assinado para pressionar o Twitter Brasil a assumir responsabilidades contra a disseminação de discursos de ódio, difamação e calúnia na rede social. A petição, que coleta assinaturas através da plataforma Change.org, foi criada depois que a jornalista da Folha de S.Paulo, Patrícia Campos Mello, foi falsamente acusada em uma CPMI de ter se insinuado sexualmente em troca de informações para uma matéria.
O manifesto já coletou mais de 3,4 mil assinaturas em apenas uma semana. No texto do abaixo-assinado, o coletivo cobra que o Twitter “retire imediatamente de circulação material dessa natureza e colabore com a responsabilização dos autores” que mantêm contas na rede social destinadas a essa finalidade. A petição ressalta, ainda, que a rede se tornou a principal plataforma de ataque de uma “turba robotizada” e que, ao hospedar e ampliar tais conteúdos, beneficia-se disso e se omite das consequências para reputações, profissões e vidas.
A repórter da Folha foi atacada por Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa pelo aplicativo WhatsApp. Enquanto prestava depoimento como testemunha à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News no Congresso Nacional, no último dia 11, Hans acusou a profissional de querer uma matéria “a troco de sexo”. Em seguida, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), reforçou as ofensas e, ainda, passou a postar inúmeros tuítes com as insinuações.
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Patrícia havia entrevistado Hans, que atuou em uma especializada de marketing digital durante as eleições de 2018, para uma reportagem sobre como empresas usaram nomes e CPFs de idosos para registrar chips de celular e disparar de mensagens no aplicativo em benefício de políticos. A profissional e a Folha de SP reagiram às falsas acusações e, como prova de que Hans mentiu, apresentaram prints das conversas mantidas entre os dois.
Mentir em uma CPI é crime. Por isso, o ex-funcionário da empresa Yacows tornou-se alvo de uma representação feita no Ministério Público Federal (MPF), protocolada pela deputada Lídice da Mata (PSB-BA), que é relatora da CPMI das Fake News. Além disso, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) enviou ao MPF do Distrito Federal uma notícia-crime contra Hans.
Nesta terça-feira (18), o presidente Jair Bolsonaro comentou o assunto, reforçando ainda mais o teor misógino do ataque à jornalista. “Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, disse aos risos. Um grupo de deputadas e o jornal protestaram contra a fala de Bolsonaro acusando-o de quebra de decoro exigido pelo exercício da Presidência.
Por um ambiente seguro à pluralidade de vozes
Inúmeros tuítes e memes recheados de discurso de ódio e assédio explícito contra jornalistas mulheres passaram a se multiplicar e viralizaram na rede. Denúncias sobre o conteúdo das postagens foram feitas ao Twitter Brasil, que não tomou atitude para combater o ataque difamatório, alegando que as publicações “não violam suas regras”. Diante da indignação com o posicionamento da plataforma, o coletivo criou a petição cobrando uma resposta a contento.
“Calúnia e difamação são crimes previstos no Código Penal brasileiro. O Twitter Brasil, no entanto, há anos tem se colocado à margem de nossa lei penal ao manter discursos difamatórios”, diz trecho do abaixo-assinado aberto pelo Jornalistas Contra o Assédio.
O coletivo surgiu no ano de 2016 depois que uma repórter do portal iG denunciou ter sofrido assédio sexual por parte do cantor Biel e foi demitida. O coletivo protesta sempre que um profissional do jornalismo é vítima de algum tipo de assédio em todo o país.
“Queremos neste manifesto ressaltar que as regras das redes ou de qualquer outra corporação, nacional ou estrangeira, não se sobrepõem às leis do Brasil”, enfatiza a petição. O abaixo-assinado está aberto e reúne apoiadores: http://change.org/JornalistasContraoAssedio