Petição pede reabertura do Buraco da Minhoca para atividades culturais

Abaixo-assinado pede liberação para atividades de lazer, esportivas e culturais, como exposições, cinema popular, debates e arte circense

23/04/2015 15:41 / Atualizado em 04/05/2020 17:13

Faz mais ou menos quatro anos que o fotógrafo Chico Tchello sai de sua casa, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, sentido à estação República do metrô. Com uma caixa de som portátil debaixo do braço e disposição para cruzar a cidade sem pressa ou hora marcada, sua intenção é uma só: levar música aos ouvidos dos paulistanos que transitam por aí.

Neste enredo surge também a história de um conhecido espaço público que se tornou palco de festas, saraus e todo tipo de evento cultural sem lugar próprio na cidade: o Buraco da Minhoca – túnel localizado embaixo da Praça Roosevelt, entre o Minhocão e a Rua Augusta.

“Um dia tava sentado na escadaria da Roosevelt, ouvindo músicas brasileiras no meu pen-drive até sermos advertidos pelos guardas municipais por conta do barulho. Apesar de assumirem que também gostavam da música, tivemos que desligar o som. Por causa disso, procurando um novo lugar, reparei naquele túnel próximo que não passava carros. Levantei e fui para lá”. Naquele dia a festa improvisada duraria até de manhã.

Buraco da Minhoca recebeu edição da Viradinha Cultural e no Carnaval se tornou ponto de encontro dos blocos de rua, reunindo quase 5 mil pessoas
Buraco da Minhoca recebeu edição da Viradinha Cultural e no Carnaval se tornou ponto de encontro dos blocos de rua, reunindo quase 5 mil pessoas

O lugar propício ao isolamento sonoro, bem iluminado e com um espaço livre considerável, passou a receber centenas de pessoas aos finais de semana quando alguma festa acontecia por lá. “Eu não reparei a princípio que as luzes fortes do túnel chamavam a atenção das pessoas que ali passavam. E a cada reunião que acontecia, mais pessoas iam descobrindo o túnel, contando com a presença de inúmeros coletivos culturais da cidade”.

Para organizar melhor o novo espaço que era criado involuntariamente, Tchello decidiu organizar um grupo no Facebook entre os entusiastas que costumavam frequentar o lugar. Ainda sem nome, foi aí em que o túnel se tornou o conhecido “Buraco da Minhoca”, talvez em alusão à teoria utilizada pelos físicos para designar um “atalho” entre espaço e o tempo.

Com a multiplicação das festas, consequentemente, surgiram as primeiras reclamações por parte dos moradores. E das dezenas para as centenas aos milhares, o buraco virou alvo da insatisfação da associação de moradores da região, que passou a pressionar as autoridades para dar um basta na ‘bagunça’ que ali acontecia. Os motivos, dos mais variados: do barulho ao suposto uso de drogas, até problemas menos prováveis como insalubridade.

Depois de incontáveis reuniões reunindo coletivos, a GCM (Guarda Civil Municipal) e a prefeitura, o destino do Buraco da Minhoca foi sentenciado por uma liminar do Ministério Público, que determinou seu fechamento com portões, impedindo o acesso ao local desde o último dia 19 de março.

Abaixo-assinado: por um Buraco da Minhoca com exposições, cinema, debates e arte circense

Desde que foi fechado, há pouco mais de um mês, ações na busca por diálogo com as autoridades pedem a reabertura do Buraco da Minhoca para a realização de atividades culturais. Mobilizados, os coletivos Yopará e MaicknucleaR organizaram um abaixo assinado pedindo a utilização do túnel aos domingos e feriados, visando ações recreativas, esportivas e culturais, a exemplo do tradicional Sarau Utopia do Asfalto, que acontecia todos os últimos domingos do mês. Além de exposições diversas, cinema popular, debates e arte circense.