Pirituba Warriors: time de beisebol da periferia de SP luta para não ser despejado
Primeira e única equipe de beisebol da periferia paulistana, Pirituba Warriors resiste à ordem de despejo emitida pela Secretaria Municipal de Esportes que planeja construir um campo de futebol
Quatro jogos, quatro vitórias e 100 % de aproveitamento na Liga Paulista de Beisebol. Dono de uma impecável campanha no mais importante torneio do país, o Pirituba Warriors, equipe comandada por Agnaldo Veríssimo, tem os dias contados: até o fim de maio terá que deixar o campo do CDC São José, sede do projeto social e campo de treinamento do time que há 20 anos transforma a realidade de milhares de moradores da periferia de São Paulo através do esporte.
Em seu lugar, a Secretaria Municipal de Esporte projeta a construção de um campo de futebol.
Contudo, para contar a história dos “guerreiros piritubanos”, é indispensável apresentar a trajetória de seu treinador, Agnaldo Veríssimo. Com quatro passagens pela FEBEM (Atual Fundação CASA) e um passado marcado pelo envolvimento com o tráfico e assaltos, hoje, aos 44 anos, ele ressalta a importância do beisebol – modalidade pouco popular no País do Futebol que transformou a sua vida.
- Descubra como aumentar o colesterol bom e proteger seu coração
- Entenda os sintomas da pressão alta e evite problemas cardíacos
- USP abre vagas em 16 cursos gratuitos de ‘intercâmbio’
- Psoríase: estudo revela novo possível fator causal da doença de pele
“O beisebol me foi apresentado em um momento muito importante da minha vida. Tive quatro passagens pela FEBEM na adolescência e o esporte surgiu como uma alternativa”, destaca Agnaldo, prestes a se formar na faculdade de educação física.
Uma vida de amor dedicada ao beisebol
Antes de comandar o Pirituba Warriors, o entusiasta e admirador do beisebol relembra os primeiros dias de arremesso no bairro da periferia de São Paulo.
“Tudo começou quando eu organizava jogos entre escoteiros do bairro. Era muito difícil porque tínhamos uma luva, um bastão e bola. Depois, um senhor de família japonesa soube que jogávamos e doou algumas luvas e outros materiais. Como estavam um pouco gastas e em más condições, fui atrás de um curso de costura no Senai e dei um jeito de recuperar as bolinhas e as luvas que são feitas de couro”.
Com melhores condições para a prática do beisebol, Agnaldo foi além e levou a modalidade para escolas e favelas da região. Apesar da sua baixa popularidade, sobretudo nas periferias, o beisebol chamou a atenção por sua semelhança com outra modalidade bastante praticada nas ruas do Brasil: o taco.
“Todo mundo joga ou já jogou taco. E o beisebol é um “taco” mais sofisticado. A gente cria uma opção em que a pessoa pode fugir do tradicional, do futebol, e descobrir um novo talento, se desenvolver, e saber que tem uma gama muito grande dentro do beisebol”.
De Pirituba à seleção brasileira e torneio na Guatemala
Em duas décadas de esforço, treino e dedicação, o Pirituba Warriors ostenta uma trajetória de respeito nos campos: em 2008 a equipe foi convidada pela Litle League (da Pensilvânia) a participar de um torneio realizado na Guatemala. Além disso, do CDC São José, meninos foram revelados e transferidos para outros times do país, em ligas superiores e chegaram até à seleção brasileira.
“Aqui é o único campo de beisebol que existe na periferia de São Paulo. São vinte anos de um projeto feito com muito esforço, em um lugar com poucas opções para uma vida que não seja no crime ou fazendo besteira por aí. Se quisessem tirar a gente pra construir uma escola, uma creche, não teria problema. Mas toda esquina tem um campo de futebol.”
Subprefeitura do Jaraguá alega falta de documentação necessária
Por telefone, a redação do Catraca Livre entrou em contato com a Subprefeitura do Jaraguá, onde foi atendida pelo supervisor de esporte da região, Edson Marolla. Na conversa, a autoridade afirmou que o processo foi aberto pelo Ministério Público de São Paulo, que se embasou na ausência de documentação, e consequentes irregularidades, para emitir a ordem de despejo.
Marolla também ressaltou que tem dialogado com os responsáveis pelo projeto social para levar o time a outro campo próximo do local onde hoje acontecem os treinos e atividades do Pirituba Warriors.
Crédito: Thiago Prudêncio.