Planalto vai devolver obras de Portinari e outros artistas ao Rio

Segundo ex-curador do Palácio da Alvorada, diretora de museu sugeriu substituir obra de Eliseu Visconti por uma de Romero Britto

 As paredes dos Palácios do Planalto e da Alvorada ficarão menos interessantes: a partir desta semana, devem ser devolvidas ao Museu Nacional de Belas Artes do Rio 48 obras de arte do acervo da Presidência.
Biblioteca do Palácio da Alvorada

Segundo informações de reportagem de Rebeca Oliveira e Pedro Grigori no “Correio Braziliense”, Brasília perderá quadros de Cândido Portinari, Djanira da Mota, Alberto da Veiga Guignard, Arcângelo Ianelli, Eliseu Visconti, entre outros, além de estudos, desenhos, porcelanas, esculturas e mobiliário dos séculos 18 e 19.

O motivo é burocrático: acaba agora em dezembro o contrato de comodato com o museu, e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) já autorizou a retirada das peças, que estavam em Brasília desde os anos 50. O empréstimo, afirma o “Correio”, durou de 1956 a 991, quando foi prorrogado até este ano.

As peças serão substituídas por outras do acervo da Presidência e do Banco Central. O ex-curador do Palácio da Alvorada, Rogério Carvalho, no entanto, revelou ao jornal uma conversa no mínimo curiosa: segundo Carvalho, pouco antes do impeachment de Dilma Rousseff, ele teve algumas reuniões com Mônica Xexéo, diretora do Museu de Belas Artes.

Na conversa, ela teria oferecido o “descarte do museu” em troca das obras que serão devolvidas. “Nas últimas reuniões de que participei”, diz ele, “Mônica ofereceu um Romero Britto em troca de um Eliseu Visconti.” Procurada pelo “Correio”, a diretora não pôde falar por estar com problemas de saúde.

Maria Elisa Costa, filha do arquiteto e urbanista Lucio Costa, um dos criadores de Brasília, publicou um post em seu perfil no Facebook em que demonstra sua insatisfação com o caso. Segundo ela, retirar as obras é “desmerecer a sensibilidade e a sabedoria de quem foi capaz de construir, em três anos, nossa capital”, afirma, se referindo ao presidente Juscelino Kubitschek.

“[JK] conseguiu que o Museu de Belas Artes da antiga capital lhe cedesse uma bela coleção de obras a serem colocadas nos palácios de Brasília, como a dizer: aqui, poder e arte convivem cotidianamente”, diz. Maria Elisa faz também um apelo ao presidente Michel Temer, pedindo que as obras sejam mantidas onde estão.

A assessoria da Presidência afirma que as obras estão sendo devolvidas para passar por uma limpeza profunda e que a substituição é uma forma de apresentar as peças ao grande público, depois de ficarem anos nos palácios de Brasília e do Rio.

Leia a íntegra da reportagem.

  • As visitações ao Palácio do Planalto são abertas aos domingos, das 9h30 às 14h. São distribuídas 200 senhas, para grupos de 20 pessoas, a cada 30 min. O roteiro inclui visita aos Salões Nobre, Oeste e Leste, à Sala de Reunião Suprema, à Sala de Audiência, ao Gabinete Presidencial e uma apresentação das obras de artes do palácio. No dia 1º de janeiro, as visitas estarão suspensas.