PM foi acionada 8 vezes antes de marido assassinar mulher

"Um vizinho tá batendo muito na mulher. Eu acho que até já matou", alertou uma das ligações

A mulher foi assassinada na madrugada de 14 de janeiro

Um caso de feminicídio na madrugada do dia 14 de janeiro poderia ter sido evitado. Gravações divulgadas nesta quinta-feira, 14, pela RPCTV mostram que vizinhos acionaram a Polícia Militar oito vezes antes de Daniela Eduarda Alves, 23 anos, ser assassinada pelo marido Emerson Bezerra, 25 anos, em Fazenda Rio Grande, região metropolitana de Curitiba (Paraná). Os áudios foram anexados ao inquérito que investiga a morte.

Segundo informações da Gazeta do Povo, a briga começou por volta das 23h. A primeira ligação dos vizinhos para a polícia ocorreu perto de 1h. “Boa noite. É que está tendo uma briga, não sei se é um casal. A mulher está gritando ‘socorro’ aqui na rua”, alertou uma pessoa pelo telefone.

A vítima foi morta 40 minutos depois, à 1h40. No entanto, a viatura chegou ao local apenas às 2h20, após o padastro de Emerson acionar mais uma vez a PM avisando que o crime já havia acontecido e que o enteado estava em sua casa com sangue da mulher no corpo.

Os áudios mostram que os vizinhos relataram que era uma situação grave, que a mulher pedia socorro porque corria risco de morte e que havia uma criança na casa. “Eu acabei de ligar pedindo uma viatura aqui pra nossa rua, que tem um homem, um vizinho que tá batendo muito na mulher. Eu acho que até já matou”, alertou o telefonema.

Em nota à reportagem, a PM informou que o policial que atendeu as ligações disse que a viatura da região estava atendendo outras ocorrências naquele momento. De acordo com o comunicado, por reconhecer a complexidade dos fatos, a polícia está apurando o caso.

Emerson está preso acusado de feminicídio, assassinato por motivo torpe e meio cruel.

‘Questão familiar’, diz PM

Em entrevista à RPC, nesta sexta-feira, 15, o tenente-coronel da PM Manoel Jorge dos Santos Neto declarou que o caso do assassinato de Daniela Alves “foi uma briga de casal”. “Há uma necessidade de atendimento prévio que a família por certo também sabia”, disse.

“É óbvio, a vida da Daniela se foi, nós não temos como trazê-la de volta, a Polícia Militar está consternada com este fato. Tanto que desde a época que o fato ocorreu, nós tomamos medida de melhorar esse atendimento, a nossa tábua de prioridade obviamente que vai ser melhor. Mas veja, é uma questão de atendimento familiar. Se o marido mata a esposa, infelizmente é uma questão familiar que daí se torna um crime”, tentou justificar o tenente-coronel.

Veja trechos das ligações:

A primeira ligação:

Denunciante: Boa noite. É que está tendo uma briga, não sei se é um casal. A mulher está gritando ‘socorro’ aqui na rua.

Policial: Está registrado senhora. É só aguardar o atendimento, tá bom?

Outros vizinhos ligam e dão mais detalhes sobre a situação:

Denunciante: O vizinho aqui da minha casa tá espancando a mulher dele e tem uma criança pequena junto. Acredito que ele tá espancando a criança também

Policial: Nome da rua?

Denunciante: São Simeão.

Policial: São Simeão? Já tem um pedido pro local aí. Vou cadastrar e pedir averiguação, tá bom?

Os vizinhos insistem…

Denunciante: Eu acabei de ligar pedindo uma viatura aqui pra nossa rua, que tem um homem, um vizinho que tá batendo muito na mulher. Eu acho que até já matou.

Policial: Rua São Simeão.

Denunciante: Isso.

Policial: É só aguardar a disponibilidade aí.

Os vizinhos vão ficando cada vez mais desesperados:

Policial: Polícia Militar, emergência

Denunciante: Oi. É a segunda vez que eu liguei pra vir uma viatura aqui na nossa rua e não veio até agora e tá muito feio o negócio aqui, moço.

Policial: Já tá sendo encaminhado o atendimento aí.

Denunciante: Meu Deus, mas por que demora tanto?

Policial: Porque a viatura tá dando atendimento a uma outra ocorrência. Tem que esperar liberar pra atender essa, né? Infelizmente é muita gente pedindo atendimento da viatura aí.

Até que o padrasto liga avisando sobre a confissão de Emerson:

Policial: Boa noite, qual a emergência

Padrasto: Meu enteado tá aqui na minha casa, ele disse que matou a esposa na Fazenda Rio Grande.

Policial: Ele falou que matou a esposa?

Padrasto: Isso. Ele tá todo ensanguentado, eu liguei pros parentes dela e eles vão lá ver.