Policial encoxou jovem e teve ereção em protesto, diz Passe Livre

O ato contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo teve relatos de agressões por parte da PM

O ato terminou em confronto da PM contra os manifestantes
Créditos: Reprodução / Passe Livre São Paulo
O ato terminou em confronto da PM contra os manifestantes

Uma jovem denunciou ter sido agredida e abusada sexualmente por um policial militar durante o terceiro protesto contra o aumento da tarifa do transporte público nesta quinta-feira, 16, no centro de São Paulo. A informação foi divulgada pelo Movimento Passe Livre, organizador da manifestação.

Segundo o Passe Livre São Paulo, enquanto prendia a garota, o PM a “encoxou” e teve uma ereção. O grupo classificou o ocorrido como “revoltante” e informou que está dando apoio jurídico e acolhimento à vítima. “Entendemos que as possibilidades de denúncias jurídicas e outras ações frente ao crime sexual cometido pela polícia dependem de decisões da própria vítima e, em todo o caso, daremos todo o apoio possível a ela”, diz a nota.

Segundo a Fórum, que teve acesso ao Boletim de Ocorrência, a jovem relatou ter sido agredida com um mata-leão pelo policial, que teve uma ereção e se aproveitou para encostar em seu corpo “de forma lasciva e libidinosa”.

O ato desta quinta terminou em confronto e ao menos dez pessoas foram detidas. O grupo, que se reuniu em frente ao Theatro Municipal no final da tarde, saiu em caminhada até a Praça da República. De lá, os manifestantes pretendiam seguir até a avenida Paulista, quando foram impedidos com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.

Mesmo que os líderes do ato tenham informado com antecedência o trajeto do protesto à PM, o grupo de cerca de 500 pessoas foi impedido de seguir na caminhada. A polícia alegou que barrou a manifestação por temor de atrapalhar ainda mais o trânsito, que já estava complicado por causa dos alagamentos provocados pela forte chuva que atingiu a cidade durante a tarde.

Em um vídeo que circula na internet, é possível ver o PMs arrastando uma jovem pelos cabelos. Ela foi identificada como Andreza Delgado, militante do Passe Livre e também organizadora do Perifacon. Este foi o terceiro protesto do MPL este ano contra aumento da tarifa do transporte público, que desde 1º de janeiro passou de R$ 4,30 para R$ 4,40.

No comunicado, o movimento contou mais detalhes sobre os atos de violência por parte da PM. “Mais repressão: espancamentos, detenções, bombas, gás e balas de borracha. Policiais brutamontes dando mata-leões em meninas adolescentes. Gás lacrimogêneo descendo pela Estação República e sufocando a população que estava encurralada (o Metrô fechou a estação e bloqueou as catracas com grades)”, afirma o texto.

Após a truculência, o grupo marcou o quarto ato contra o aumento da tarifa, que acontece na terça-feira, 23, no Terminal Parque Dom Pedro II, no centro da capital paulista. A concentração é a partir das 17h e a saída está prevista para as 18h.

A Catraca Livre tentou contato com a Secretaria de Segurança Pública, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Confira o comunicado do MPL na íntegra:

“NOTA SOBRE A TERCEIRA MANIFESTAÇÃO CONTRA O AUMENTO: 4,40 NÃO DÁ!

Mais uma vez ocupamos as ruas contra o aumento de 10 centavos. Dessa vez, o ato se iniciou na frente do Teatro Municipal. Enquanto os/as manifestantes se preparavam para marchar, as forças policiais, a mando do playboy João Doria e seu amigo Bruno Covas, tentavam impedir a saída dos manifestantes. Não adiantou, driblamos a polícia e ocupamos as ruas: a cidade é do povo!

Não satisfeitos, a polícia seguiu agressivamente, empurrando suas motos contra os/as manifestantes. E logo no cruzamento da Av. Ipiranga com a Av. São João as forças policiais tentaram estrangular e dividir o ato, além de enquadrar aleatoriamente as pessoas nas ruas vizinhas. Não recuamos. Seguimos para a Praça da República.

Mais repressão: espancamentos, detenções, bombas, gás e balas de borracha. Policiais brutamontes dando mata-leões em meninas adolescentes. Gás lacrimogêneo descendo pela Estação República e sufocando a população que estava encurralada (o Metrô fechou a estação e bloqueou as catracas com grades).

Uma jovem, foi violentamente detida, e além das agressões físicas e psicológicas, foi abusada sexualmente: enquanto a detinha, o PM a encoxou e teve uma ereção. REVOLTANTE!

Além de apoio jurídico e político, nos dispomos a apoiar e acolher a jovem que foi vitima desse abuso. Entendemos que as possibilidades de denúncias jurídicas e outras ações frente ao crime sexual cometido pela polícia dependem de decisões da própria vítima e, em todo o caso, daremos todo o apoio possível a ela.

Politicamente, consideramos importante lembrar que esse não é um caso isolado ou algo que pode ser atribuído a um policial em específico. Trata-se de mais uma mostra do terrorismo de Estado, que novamente se vale da violência machista e racista contra quem luta por direitos. Desde Junho de 2013, em todos os governos, temos observado um endurecendo das medidas repressivas e fortalecimento do aparato militar. O que vivemos hoje é uma consequência dessa escalada na repressão.

Toda essa violência contra nossos corpos só para defender as catracas.

Perguntamos ao Governador João Doria e ao Prefeito Covas: não sairia muito mais barato liberar as ruas? Não sairia muito mais barato liberar as catracas? Nossas vidas não importam? E nosso direito à manifestação?

O Governador Doria diz que os/as manifestantes depredam o patrimônio público. Mas, nós, que precisamos do transporte “público” pra nos locomover no dia-a-dia, sabemos que quem vandaliza o transporte é o Estado, com a precariedade, com a tarifa e seus aumentos.

*As dez pessoas detidas foram encaminhadas para a Segunda Delegacia de Polícia. Foram liberadas ao longo da madrugada e receberam acusações de desobediência, resistência e lesão corporal.

VIOLENTA É A TARIFA!

Não vão nos proibir de lutar por um transporte verdadeiramente público e de qualidade.

Convidamos geral a continuar ocupando as ruas!

Além disso, na terça-feira, dia 21/01, estamos chamando um dia de catracaços, para mostrar que não abrimos mão do nosso direito ao transporte.”