Por que somos culpados pelo desaparecimento de países insulares
Por Alessandra Petraglia e Heloisa Aun
O aumento do nível do mar tem ameaçado a sobrevivência das pequenas ilhas do Pacífico, muito conhecidas por suas paisagens paradisíacas. Com baixo desenvolvimento socioeconômico, estão expostas a diversas vulnerabilidades, entre elas os impactos do clima. E os maiores responsáveis por essa preocupante realidade são as grandes potencias econômicas como Estados Unidos e China, que apresentam altos índices de emissão de gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global.
O arquipélago do Pacífico preside a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 23), que ocorre em Bonn, na Alemanha, até o dia 17 de novembro. O aumento do número de eventos extremos no pequeno Estado, como ciclones e graves inundações, tem provocado impactos ambientais, sociais e econômicos na região. De acordo com um relatório do Banco Mundial, as Fiji gastam aproximadamente 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para evitar esses desastres.
“Nós temos muitos ciclones agora, com maior frequência e intensidade. Isso nos afeta de muitas formas. Afeta a economia, afeta o modo de vida e afeta a saúde das pessoas também”, destaca o ministro da Agricultura e da Administração de Desastres de Fiji, Inia Seruiratu. O governo tenta adotar medidas para conter as consequências do clima, mas o baixo desenvolvimento local é um entrave para ações mais efetivas.
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Por isso, na conferência deste ano, eles pedem o apoio da comunidade internacional para que iniciativas mais sustentáveis para o planeta sejam adotadas com urgência, caso contrário os dias para pequenas ilhas, como Tuvalu e Kiribati, estarão contados. “Nós precisamos da assistência da comunidade internacional para ajudar Fiji e as outras pequenas ilhas”, aponta. De acordo com Seruiratu, o compartilhamento de tecnologias e o apoio financeiro são as grandes prioridades para que o pior não aconteça.
No ano passado, as ilhas Fiji foram atingidas pelo ciclone tropical Winston, o pior já registrado na região. O evento climático causou mortes e danos imensuráveis para a população local, que já considera a possibilidade de ter que migrar para ilhas maiores ou até outros países nos próximos anos. “É claro que, com o aumento do nível do mar, alguns desses lugares provavelmente vão estar na água nos próximos anos e eles precisarao ser deslocados”, afirma o ministro.
Neste ano, o primeiro ministro de Fiji e presidente da COP 23, Frank Bainimaram, fez um discurso emocionante pedindo pela colaboração internacional para receber os refugiados do clima, principalmente seus vizinhos de Kiribati e Tuvalu. “Nós, os Fijianos, abraçaremos vocês, nossos amigos do Pacífico, e os levaremos para nossas casas. E pedimos a outros países que ofereçam a mesma hospitalidade aos deslocados climáticos.”
Para Bainimaram, se só existe um mundo, todos devemos cuidar dele como apenas uma única nação.
Proteção e resiliência
Durante a conferência climática deste domingo, dia 12, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em colaboração com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) e em parceria com a Presidência das Ilhas Fiji, lançou uma iniciativa especial para proteger os moradores dos pequenos estados insulares contra os impactos das mudanças climáticas.
A ideia é que, até 2030, todos esses estados tenham sistemas de saúde resilientes aos efeitos do clima e que as nações de todo o mundo reduzam substancialmente suas emissões de carbono para minimizar os riscos das populações mais vulneráveis.
O projeto tem quatro objetivos principais: primeiro, dar voz aos líderes de saúde dos estados insulares; depois, reunir dados para conseguir apoio em investimentos para o controle das mudanças climáticas e para a saúde; em terceiro, promover políticas que visem à preparação e prevenção aos desastres; por último, triplicar os níveis de apoio financeiro internacional nessas regiões.
“As pessoas que vivem nos pequenos estados insulares em desenvolvimento estão na ‘linha de frente’ de eventos climáticos extremos, aumento do nível do mar e aumento do risco de doenças infecciosas”, declarou Dr Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
Para Patricia Espinosa, Secretária Executiva da ONU sobre Mudanças Climáticas, as nações precisam implementar o Acordo de Paris para que os impactos do clima para a saúde e bem-estar dessas populações sejam controlados. “Esta iniciativa pode fortalecer a resposta das pequenas ilhas aos riscos crescentes, já que o mundo trabalha para garantir que, juntos, mantenhamos um aumento da temperatura global bem abaixo de 2 graus, ou melhor, não superior a 1,5 graus”, disse.
- A cobertura da COP 23 é uma parceria entre o Climate Journalism e oInstituto Clima e Sociedade (iCS) para incentivar a produção de jovens jornalistas sobre temas relacionados às mudanças climáticas e a mobilidade urbana.
- As jornalistas viajaram a convite das organizações.