Presidente do Grammy nega que a premiação é racista

Não é só o Oscar que vem se deparando com discussões sobre representatividade. O Grammy, o maior e mais prestigioso prêmio da música, também vem rendendo muita reflexão – especialmente após Adele levar a estatueta de Álbum do Ano e reconhecer que Beyoncé merecia a estatueta por ‘Lemonade’ (entenda mais sobre isso neste link).

Por causa dessa escolha, muitas pessoas foram às redes sociais apontar como premiações excluem minorias. Uma questão que a própria Nicki Minaj já havia tocado em 2015, quando não foi indicada para o VMA com ‘Anaconda’ (e aí Taylor Swift decidiu respondê-la, e uma grande polêmica começou).

Com isso em mente, o jornalista Marc Hogan questionou o presidente do Grammy, Neil Portnow, sobre a premiação ser racista ou não. Na entrevista, ele relembrou que desde 2008, um artista negro não ganha a categoria mais esperada e honrada do Grammy: Álbum do Ano.

Portnow negou qualquer problema, e disse que 14 mil membros da academia musical participavam das votações. “Eles são os experts, os profissionais no nível mais alto da indústria”, apontou. “É sempre difícil criar objetividade de algo que inerentemente subjetivo, que é do que se trata a arte e a música. Fazemos o nosso melhor”. Ele também explicou que a votação funciona pelo sistema de maioria – por isso, é possível que um artista leve a estatueta pela diferença de apenas um voto.

O presidente continuou dizendo que os músicos não escutam música “se baseando em gênero, raça ou etnia”. “Nós pedimos para que eles não prestem atenção a vendas, marketing, popularidade e paradas de sucesso. Você precisa escutar a música. Então os 14 mil participantes da votação escutam, se decidem e votam”, contou, garantindo que eles trabalham para que esse comitê seja bem diverso.

Em uma entrevista à Billboard, Neil Portnow voltou a comentar sobre as críticas que o Grammy vem recebendo. “Entendo que as pessoas possam se sentirem excluídas”, considerou. “Mas é simples: participem e votem, então vocês são parte da conversa. Não apenas encorajamos e damos boas vindas a isso como também precisamos disso”.

Como a BBC apontou, entre 2007 e 2017, o único artista negro a ganhar o prêmio de Álbum do Ano foi Herbie Hancock. Desde então, Robert Plant, Alison Krauss, Taylor Swift (duas vezes), Arcade Fire, Adele (duas vezes), Mumford & Sons, Daft Punk e Beck levaram a estatueta para casa. Já o Fusion listou os artistas negros que foram prestigiados nessa categoria desde o surgimento do Grammy, nos anos 50:

Stevie Wonder: Innervisions (1974), Fulfillingness’ First Finale (1975) Songs in the Key of Life (1977)
Michael Jackson: Thriller (1984)
Lionel Richie: Can’t Slow Down (1985)
Quincy Jones: Back on the Block (1991)
Natalie Cole: Unforgettable With Love (1992)
Whitney Houston: The Bodyguard: Original Soundtrack (1994)
Lauryn Hill: The Miseducation of Lauryn Hill (1999)
Outkast: Speakerboxx/The Love Below (2004)
Ray Charles: Genius Loves Company (2005)
Herbie Hancock: River: The Joni Letters (2008)

O crítico John Vilanova concorda que o Grammy exclui minorias. “Pessoas bem-intencionadas costumam ter problemas para entender como é o racismo sistêmico”, escreveu após Taylor Swift ganhar de Kendrick Lamar em 2016. Solange Knowles também se manifestou sobre a perda de Beyoncé no último Grammy. Em um tweet já deletado, ela disse: “criem seus próprios comitês, construam suas próprias instituições, deem prêmios a seus amigos, premiem a si mesmos e sejam o ouro que vocês querem segurar”.

O compositor Kevin Powell, por sua vez, avalia que por tratar da cultura negra, ‘Lemonade’ pode ter deixado o comitê do Grammy desconfortável. “Ainda somos uma nação que não quer lidar diretamente com a verdade”, disse à CNN. “O álbum da Adele é forte, mas apenas são músicas sobre amor. É seguro e nada controverso; não rompe bandeiras. Assim como são os eleitores do Grammy, em geral, quando se trata de eleger vencedores nesta premiação específica”.