Projeto em BH ensina mulheres periféricas a reformar suas casas
Criada pela arquiteta Carina Guedes, a iniciativa tem como objetivo promover a melhoria da moradia para famílias de baixa renda em Belo Horizonte
Moradora da ocupação Dandara, na periferia de Belo Horizonte (MG), a cozinheira Ana Paula Sousa, de 36 anos, rebocou toda sua casa, fez a encanação de água, colocou cerâmica no quarto e reformou outro cômodo. Tudo isso sozinha, sem precisar de auxílio de um profissional.
Recém-formada como costureira, a mineira foi uma das participantes do projeto “Arquitetura na Periferia“, que ensina mulheres de baixíssima renda a reformarem suas próprias casas.
A ideia nasceu a partir da pesquisa de mestrado da arquiteta Carina Guedes, de 32 anos, e teve a colaboração de sua orientadora, Silke Kapp, e do grupo de pesquisa coordenado pela professora, o MOM (Morar de Outras Maneiras).
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“Entrei para o mestrado com a angústia de exercer uma profissão que não era capaz de atender a uma camada expressiva da população brasileira, justamente aquela que mais autoconstrói, ou seja, produz suas próprias moradias”, afirma Carina.
A primeira edição do “Arquitetura na Periferia” ocorreu entre setembro de 2013 e junho de 2014. Durante 10 meses, Carina deu assistência técnica semanal a três mulheres da ocupação Dandara.
O projeto teve como objetivos imediatos promover a melhoria da moradia para famílias de baixíssima renda e desenvolver a capacidade de planejamento do grupo.
Para a participante Ana Paula, os encontros transformaram não só a sua casa, mas também a sua visão de mundo. “Hoje olho as coisas e as pessoas de outra forma. Por exemplo, olho para as pessoas sabendo que qualquer uma de nós é capaz de fazer qualquer coisa que quisemos”, relata.
Na iniciativa, as mulheres aprenderam a medir e desenhar suas casas; levantar, analisar e priorizar suas demandas; propor, representar e discutir soluções espaciais; planejar sua execução e financiá-la coletivamente; realizar compras de materiais a bom preço e com economia de escala; e executar parte das obras.
“Esse processo nos leva ao nosso objetivo principal que é estimular a autoconfiança e autoestima das participantes, o que acaba por estimular a melhoria de suas condições de vida e também de suas famílias”, ressalta a arquiteta.
Financiamento
O primeiro grupo foi mantido por Carina com parte de sua bolsa da CAPES para o microfinanciamento das obras, além do dinheiro economizado pelas próprias mulheres.
Com o resultado positivo da iniciativa, a arquiteta passou a integrar a associação “Arquitetos Sem Fronteiras” e conseguiu apoio da ONG internacional “Brazil Foundation”.
Agora, a idealizadora busca apoiadores financeiros e ferramentas para tornar o projeto algo sustentável, como um negócio social, e expandir a atuação para a criação de novas edições.
“O nosso trabalho busca levar a estas mulheres algo do que lhes é negado. Tenho a consciência que é apenas uma minúscula intervenção neste espaço tão desigual e injusto em que vivemos, mas o vejo como uma faísca, que pode ou não gerar um incêndio de transformações”, finaliza.
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