Projeto Fotografias por Minas ajuda ações sociais afetadas pela pandemia
Projeto Fotografias por Minas reúne mais 300 expoentes da área em nome da solidariedade
Há quase três meses, a rotina de milhões de brasileiros mudou em um instante. Um povo antes acostumado a aperto de mãos, beijos e abraços, gestos simples do dia a dia, viu o que era hábito tornar-se risco de morte. Palcos apagados, portas fechadas e, ao futuro, apenas a incerteza de uma pandemia que obrigou o mundo a repensar seus passos.
E o Brasil que, nos últimos anos, relegou arte e cultura para abrir caminho ao obscurantismo da insensatez, encontrou justamente na música, no cinema, no teatro e na fotografia motivos para esquecer a dureza do mundo lá fora.
Viu, ainda, arte e cultura mobilizarem ações em benefício das populações mais afetadas pela pandemia. Um exemplo é o projeto Fotografia por Minas , formado por fotógrafas e fotógrafos mineiros unidos para uma iniciativa solidária em prol de entidades e grupos sociais impactados pelo novo coronavírus.
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A ideia buscou inspiração em ações realizadas por outros profissionais da área em São Paulo e Bérgamo, na Itália. “A arte e a cultura são respiros da nossa sociedade. Se não tivéssemos a cultura e a arte para manter a sanidade, não sei o que seria de nós. É nosso refúgio e nosso caminho”, reflete a fotógrafa Isis Medeiros, integrante da ação.
Realizada até 12 junho, a campanha conta com a adesão de mais de 300 participantes, profissionais de renome como Eustáquio Neves, Márcia Charnizon, Pedro David, João Castilho, Gustavo Lacerda, Kika Antunes, Isis Medeiros, Daniela Paoliello, entre outros.
Para a fotógrafa, a arte cumpre um papel fundamental neste período de isolamento social: dar respiro e alívio nos dias de confinamento.É nossa ferramenta de força, de luta e nesse momento tem um papel muito importante: trazer um certo conforto para quem está passando momentos de dificuldade, em vários níveis; por isso, a cultura e a arte entram na casa das pessoas para manter os sonhos e a vontade de lutar, de sonhar e de acreditar num mundo melhor do que esse que vivemos.”
Isis compara a ação do projeto Fotografias por Minas às lives realizadas por artistas famosos que arrecadam milhões de reais a cada apresentação. “Vemos lives de artistas mais famosos, que também contribuem, e isso é bem positivo. É uma experiencia muito forte ver a arte como ferramenta social para as comunidades. E acredito que a fotografia também vai por esse caminho. Não em Minas apenas, mas em outros estados onde essas campanhas têm sido alternativa para difundir a fotografia e trazer uma mensagem de solidariedade.”
Transformação e cura pela arte
Em meio ao desmonte da indústria cultural em todo o país, Isis chama a atenção para a relevância da arte contra a pandemia. Um trabalho que, além do legado social, contribui para a sanidade mental em tempos de confinamento.
Levantamento feito pela Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) mostra que casos de depressão aumentaram 90% no intervalo de pouco menos de um mês durante a quarentena.
Isis, no entanto, lamenta que as pessoas tenham que passar por uma situação tão extrema para se darem conta dessa importância. “É impossível viver sem essa força. Quando acontecem retrocessos, os primeiros setores a sofrerem são a arte e a cultura. São cortados, ignorados, porque parecem coisas supérfluas. Mas quando ligamos o computador, a TV, percebemos que, diariamente, consumimos arte e cultura. Mesmo sendo desvalorizadas e colocadas em último plano. Por outro lado, o que seria de nós nesse momento sem arte e cultura?”, indaga.
A pandemia, avalia a fotógrafa, traz um momento de reflexão para a humanidade e expôs um mundo marcado por feridas, onde desigualdade e a ganância colocam em xeque um modelo econômico obsoleto. Por isso, o projeto Fotografia por Minas abre caminho para um processo de mudança, que dê lugar a soluções coletivas. “É a hora de continuar ações nesse espírito, de fazer coisas juntos, pensar a sociedade e imaginar um mundo novo. E se esse momento traz lições tanto individuais como coletivas: o que seremos nesse pós pandemia? Temos a chance de rever o que fomos até agora e construirmos uma nova alternativa de sociedade.”
Mundo pós-pandemia
Isis reflete que a pandemia pede uma reavaliação de nossas escolhas, lembrando que o país não estaria submetido a uma das maiores crises sociais de sua história se tivéssemos uma política representativa. “Se dar conta que, de repente, mais da metade da população brasileira precisa de apoio, precisa sobreviver com apoio, significa que nosso país deu muito errado. É preciso repensar nossa forma de consumir, de viver no planeta, de se relacionar em sociedade e inverter esse jogo, né. Não precisaria tá passando por isso se tivéssemos pessoas comprometidas a transformar o mundo. E de onde vem isso ? Acredito que as transformações vem de baixo, da coletividade, e de quem precisa que o mundo mude. É possível falar de empatia, afeto, amor, e tocar o coração das pessoas para essas transformações que são urgentes, necessárias e pra já.”
“Se dar conta que, de repente, mais da metade da população brasileira precisa de apoio para sobreviver, significa que nosso país deu muito errado. É necessário repensar nossa forma de consumir, de viver no planeta, de se relacionar em sociedade e inverter esse jogo. Não precisariíamos estar passando por isso se tivéssemos pessoas comprometidas em transformar o mundo. E de onde vem isso ? Acredito que as transformações vem de baixo, da coletividade e de quem precisa que o mundo mude. É possível falar de empatia, afeto, amor e tocar o coração das pessoas para essas transformações que são urgentes, necessárias e pra já.”
Como funciona o Projeto Fotografias por Minas ?
Cada participante do Fotografias por Minas disponibilizará, para doação pelo valor de R$ 150, uma imagem de sua autoria.
O tema das imagens é inspirado na ideia “para imaginar um mundo novo”, em referência ao livro “Ideias para adiar o fim do mundo, de Ailton Krenak, e as fotografias enviadas expressam uma reunião de múltiplos olhares.“Percebemos que esta iniciativa está sendo muito importante para, de certa forma, traçarmos um olhar contemporâneo sobre a fotografia criada no estado. Isso acabou reunindo uma diversidade de representantes dessa criação, a união da classe para um bem comum maior, que é ajudar comunidades em situação de vulnerabilidade social”, ressalta Júlia Pontés, outra colaboradora do projeto.
As cópias/prints fine art das fotografias serão ilimitadas, pelo tempo que durar a iniciativa. As doações poderão ser feitas no site www.fotografiasporminas.com.br. As imagens serão impressas em papel Hahnemuhle Photo Rag 188 gr, em Pigmento Lucia EX Pro, no formato 20x30cm, realizadas pela Artmosphere.
O pagamento será feito por meio de boleto bancário, cartão de crédito ou Mercado Pago. As fotografias serão impressas, a partir de outubro, e enviadas pelos Correios. O valor arrecadado, depois de serem descontados custos de impressão e logística, será destinado a projetos sociais mineiros que necessitam de auxílio imediato por causa da pandemia. O montante será revertido e distribuído na compra de alimentos, medicamentos, materiais de proteção e higiene ou outros itens de necessidade indicados pelas entidades.
Márcia Charnizon, outra participante do projeto, explica a importância de projetos como este para os profissionais da fotografia em tempos de pandemia. “Devido à desigualdade social no Brasil, entendemos que o impacto da Covid-19 será mais grave em populações mais vulneráveis. Para nós, é importante contribuir para tentar mitigar essa situação. Doar imagens nos pareceu a ideia mais sincera.”