Projeto leva relatos de mulheres assediadas às ruas de Salvador
A estudante Larissa Novais instalou um totem no espaço público da cidade para dar voz às vítimas de abuso
O abuso sexual é algo que amedronta as mulheres ao andarem pelas ruas, principalmente em horários com pouco movimento. E os dados evidenciam essa realidade: 86% das brasileiras já foram assediadas em espaços públicos de suas cidades, de acordo com uma pesquisa divulgada pela organização ActionAid.
Para dar voz às vítimas, a estudante de produção cultural da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Larissa Novais, 22, lançou no início deste ano o projeto “Tô Na Rua, Mas Não Sou Sua“, que leva a Salvador relatos impactantes de assédio. Um totem com dois fones de ouvido foi colocado em uma praça para reproduzir os depoimentos aos pedestres.
O objetivo da ação é discutir o assédio sofrido e potencializar o alcance das vozes femininas por meio da ocupação do espaço público. “O projeto pretende gerar uma reflexão sobre o tema, causando a percepção de que cantada de rua não é elogio, não é algo normal e aceitável”, afirma a jovem ao Catraca Livre.
- “Já vivi o lado sombrio que muitas mulheres relatam”, conta líder do Grupo HEINEKEN
- Leandro Lehart não apresentou provas em seu favor no processo de estupro
- Vereador Gabriel Monteiro admite relação sexual com menor de idade
- Juiz é acusado por mulheres de assediá-las sexualmente dentro do fórum
As histórias, contadas em anonimato, também estão disponíveis neste link e revelam traços em comum. “Um carro parou e foi na velocidade da minha caminhada. O homem que estava dentro dizia: ‘gostosa, entra no meu carro, senta no meu colo’. Eu tremia de medo, o caminho era todo escuro”, conta uma das participantes.
Projeto
Como trabalho de conclusão de curso da faculdade, Larissa decidiu unir sua inquietação sobre o assédio a uma iniciativa de impacto social. No início, ela coletou em um formulário na internet vários depoimentos e notou que uma palavra se repetia: medo. “A partir dos relatos, percebi que seria muito importante levá-los para as ruas, já que elas queriam ser ouvidas, queriam falar que isso não é aceitável”, afirma.
Em seguida, a estudante selecionou 10 diferentes histórias e convidou as participantes para a gravação no estúdio da universidade. Então, instalou o totem na cidade para chamar a atenção de homens e mulheres que transitam pela região.
Segundo a jovem, a repercussão do projeto tem sido expressiva. “Muitos homens ficaram chocados, mas não falaram nada. Outros afirmaram que nunca tinham pensado nisso e queriam entender até que ponto um olhar agride, qual a diferença entre cantada e assédio, etc. Ainda teve poucos que discordaram da ação, ressaltando que ‘não se passa de um elogio'”, finaliza Larissa.
Cantada NÃO é elogio. Não vamos nos calar!