Projeto promove espetáculos de circo na periferia de SP
Circo de Québra organiza também oficinas no extremo sul da capital
Uma viela ao lado de um escadão no Jardim São Luís, extremo sul de São Paulo, que antes era apenas um local de passagem para pedestres, se transformou, em julho de 2016, em um local onde moradores e artistas ressignificam o espaço urbano por meio de arte e cultura. O projeto Circo de Québra nasceu a partir desta primeira edição, feita de modo pontual, e, após alguns meses, passou a promover mensalmente oficinas e espetáculos circenses para a população na periferia da capital paulista.
Nesta primeira vez, o Circo de Québra aconteceu como parte de uma manifestação artística e foi um espetáculo de palhaçaria, pois seu idealizador, Wandré Gouveia, estava imerso neste universo, já que era aluno da Formação de Palhaços para Jovens do Doutores da Alegria (FPJ) e fazia parte do Coletivo LUVA — grupo que tinha como pesquisa intervenções urbanas.
“Foi muito marcante [a intervenção]. A viela ficou lotada, vieram pessoas de outros bairros, e isso mostrou a potência do projeto. Assim, surgiu a vontade de continuar fazendo as ações”, afirma o criador da iniciativa em entrevista à Catraca Livre.
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Nascido e criado na região, Gouveia sempre quis fazer algo em seu bairro, pois, durante toda a sua infância, nunca teve muito contato com equipamentos culturais. “Tudo sempre foi muito distante. Uma Casa de Cultura, onde eu tive alguma vivência artística, ficava a 3 km de distância”, relata.
Segundo ele, o projeto surgiu com o objetivo de questionar o cotidiano e de trazer outra perspectiva para o espaço urbano, junto da atuação do público. Para isso, as apresentações são divididas em esquetes de diferentes estilos e modalidades circenses, intercalando com intervenções junto à plateia. Recentemente, o escadão também passou por uma ação de horta e graffiti com os moradores, o que deixou o lugar muito mais acolhedor.
O Circo de Québra tem um elenco base, composto por Wandré, Gilson Ribeiro e Mauricio Coronado, além de Hugo Palhares, responsável pela parte técnica, e Caco Mattos, que orienta as intervenções. Além dessa equipe, a cada ação eles recebem cinco artistas de rua convidados, de diferentes modalidades. Portanto, os espetáculos são sempre únicos e construídos de forma coletiva.
Arte e transformação
O Circo de Québra já realizou cerca de 30 intervenções, entre espetáculos e oficinas, a maior parte delas no Recanto Santo Antônio, bairro localizado no Jardim São Luís, e em outras duas vielas em São Paulo, na Chácara Santa Maria (zona sul) e no Jardim Guarani (zona norte). Em todas as edições, teve um público de aproximadamente 50 pessoas, cativado no “boca a boca” pelas regiões.
De acordo com Wandré, a recepção entre os moradores tem sido incrível. “As ações do Circo já fazem parte da agenda do bairro. Sempre que caminho por lá [no Jd. São Luís], as pessoas me perguntam quando vai ser a próxima edição”, diz. “A vantagem do projeto é integrar essas ações com uma apropriação do espaço público, para entenderem que aquele espaço é potente para outros acontecimentos.”
Além dessa transformação do espaço público, outra grande mudança que o Circo de Québra proporcionou foi a criação de uma agenda cultural do bairro, antes inexistente. “As pessoas que vivem no bairro não poderiam se deslocar a outros pontos da cidade para ter acesso à cultura, principalmente devido ao valor da condução”, ressalta.
Para Gouveia, o Circo de Québra faz parte de quem ele é. “A minha família, os meus amigos de infância e suas famílias vão assistir às apresentações. Então, é um projeto que envolve uma perspectiva de vida, de como eu visualizo um bom lugar para a gente viver. E a gente quer a participação das pessoas nele. Sem elas, o nosso trabalho não aconteceria”, finaliza.
Futuro e expansão
O projeto conta, atualmente, com o incentivo do VAI (Programa para Valorização de Iniciativas Culturais do Município de São Paulo). Além disso, o Circo de Québra está em processo de expansão e mapeamento de vielas e escadões nas periferias da cidade que são potenciais picadeiros para oficinas e espetáculos.