Publicitário revela que foi pago pra fingir ser apoiador de Bolsonaro
Beto Viana contou ainda que foi pago para fazer pergunta ensaiada ao presidente
O publicitário Beto Viana revelou que foi pago para fingir ser apoiador do presidente Jair Bolsonaro, ficando no “cercadinho” na saída do Palácio da Alvorada.
O publicitário contou que foi pago para fazer pergunta ensaiada ao presidente. Ele questionou se Bolsonaro havia assistido na véspera daquele dia, em 12 de abril de 2020, a entrevista do então ministro Luiz Henrique Mandetta ao Fantástico, da TV Globo. “Eu não assisto a Globo”, respondeu de imediato Bolsonaro. Mandetta foi demitido três dias depois, no meio da pandemia de covid-19.
A pergunta feita por Beto foi filmada por várias pessoas e as imagens viralizaram nas redes sociais. O publicitário contou que a pergunta foi combinada previamente entre o governo federal e o site bolsonarista “Foco do Brasil”, um dos preferidos dos apoiadores do presidente.
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Em entrevista à Folha de S. Paulo, Beto Viana contou que um amigo o indicou e ele recebeu uma ligação de um homem que se identificou como Anderson, do Foco do Brasil, e lhe perguntou se ele tinha interesse no trabalho. O Foco do Brasil tem quase 3 milhões de inscritos no Youtube e foi criado por Anderson Azevedo Rossi.
O publicitário contou que Anderson lhe perguntou se ele teria coragem de fazer uma pergunta para Bolsonaro e que lhe enviaria a questão via WhatsApp. “Se qualquer outro apoiador for falar com o presidente, você corta porque o presidente está esperando essa pergunta sua”, disse Anderson.
Beto Viana contou que ainda guarda as mensagens de Anderson no WhatsApp, com a pergunta enviada e também orientações para não levantar suspeitas caso houvesse jornalistas no local.
Nas filmagens do momento, é possível ver Bolsonaro chegando e parando no “cercadinho”, respondendo à pergunta de Beto, que aparece de camisa florida. Depois de responder que não assiste a Globo, o presidente sai, mas antes de entrar no carro olha diretamente para o auxiliar que está filmando e repete a frase garantir que toda imprensa alí presente o tinha escutado.
Segundo o publicitário, a pergunta foi apenas para Bolsonaro “poder mitar”.
Beto Viana recebeu R$ 1,1 mil no mesmo dia pelo trabalho. O valor foi pego via TED pela conta da Folha do Brasil Negócios Digitais, nome antigo do Foco do Brasil. De acordo com o publicitário, o salário mensal combinado era de R$ 2 mil e isso era um adiantamento, segundo lhe disseram.
Beto continuou indo ao ‘cercadinho’, mas não fez mais perguntas a Bolsonaro, ficou penas como “figurante”. Ele foi dispensado um mês depois. Atualmente, o publicitário trabalha como motorista de aplicativo.
Nem a Presidência da República, nem Anderson, nem O Foco do Brasil se manifestaram sobre as declarações de não se manifestou. Anderson não foi localizado para comentar. O Foco do Brasil também não respondeu aos questionamentos da Folha.