Repórter relata constrangimento de ser assediada nas ruas de Brasil e México: isso é liberdade?

Katy Watson, correspondente da BBC no México e América Central

Repórter da BBC diz que ser mulher em cidades latino-americanas pode ser mais difícil que no Oriente Médio

Eu tenho uma franzida de testa bem peculiar e carrancuda que eu passei a usar quanto tinha 20 anos para tentar acabar com os assobios e gritos que ouvia na rua quando morava no México.

Mas teve um dia que eu fui além da expressão facial e usei outra tática.

Em um dia de muito calor, eu entrei em uma loja para comprar água. Enquanto esperava para atravessar a rua, dois homens em uma van começaram a gritar indecências sobre o meu corpo.

Tentei ignorar, mas de repente algo veio de dentro de mim.

Abri minha garrafa de água e esvaziei-a na cara dos dois.

Os comentários, claro, pararam, e eu me senti bem melhor.

Alguns anos depois, eu mudei para o Oriente Médio. No início, eu senti que era exatamente o oposto da América Latina.

Uma região onde homens e mulheres mal interagem entre si e onde a imagem clichê de uma mulher usando uma roupa que a cobre dos pés à cabeça não poderia estar mais distante da imagem também clichê de mulheres seminuas no carnaval do Rio de Janeiro.

Mas olhando para além do óbvio, as duas regiões têm muito em comum quando o assunto é o papel da mulher na sociedade.

Proteger a honra da mulher é algo fundamental na cultura de parte do Oriente Médio e isso muitas vezes é usado como desculpa para proibir mulheres de terem os mesmos direitos que os homens.

Você precisa de um homem para dirigir para você na Arábia Saudita e também precisa de permissão de um homem para poder viajar.

E assim as leis vão limitando a mulher e cerceando sua liberdade.

Repórter da BBC diz que ser mulher em cidades latino-americanas pode ser mais difícil que no Oriente Médio
Mas várias vezes eu já pensei em como isso pode ser comparado à cultura machista tão predominante na América Latina.

Meu professor de português tentou me explicar uma vez a diferença da palavra “sexism” (sexismo) em inglês para “machismo”. “O sexismo é algo ruim”, ele disse, “mas o machismo, não – é uma forma de proteger as mulheres”. Confesso que ainda estou tentando entender as diferenças “positivas”.

Seja “proteção da honra” das mulheres ou machismo, o resultado é o mesmo. Mulheres sendo consideradas pessoas inferiores, cidadãs de segunda classe.

E o machismo é algo difícil de ser quebrado, como diz a feminista Catalina Ruiz-Navarro, que é colombiana e mora na Cidade do México. Homens na América Latina muitas vezes se orgulham de ser machistas e muitas mulheres gostam do estilo “protetor” deles.

“É uma crença muito latina”, diz Ruiz-Navarro. “Se ele não é ciumento possessivo, ele não quer estar com você, ou não te ama. Homens são ensinados a serem assim e mulheres são ensinadas a quererem isso.” Leia matéria completa na BBC Brasil