Repressão policial e homofobia marcam Parada LGBT de Campinas

No Dia Internacional do Orgulho LGBT, falamos sobre o dia em que Campinas viveu Stonewall

No último domingo, 26, a 16ª edição da Parada do Orgulho LGBT reuniu sete mil pessoas pelas ruas de Campinas (SP). O evento, que antes mesmo de sua realização, encontrou resistência das autoridades locais e não recebeu apoio da prefeitura, explicita o lado conservador de um Brasil que ainda não aprendeu a tolerar a diversidade.

Segundo relato divulgado pela drag queen Ikaro Kadoshi, em sua conta no Facebook, o evento saiu às ruas à sombra da indiferença da prefeitura e descontentamento da Polícia Militar e Ministério Público, que alegavam falta de segurança e contingente para o evento. “Toda a Comissão da Parada sofreu com a falta de vontade do poder público em ajudar na estrutura e na realização da parada. Para a prefeitura seria melhor que não ocorresse mesmo. (Afinal, a sociedade é mestra em fingir que a minoria nunca existiu, ate o ponto de perceber que não somos mais tão minoria assim)”, apontou.

Mesmo sem o apoio das autoridades locais, a parada foi realizada com a ajuda de populares e, sob a bandeira da visibilidade trans, travesti e transexual, o evento percorreu as ruas para falar de amor, diversidade e tolerância em clima de festa e conscientização.

Sem banheiro, ambulância e proteção, participantes se organizaram para sair às ruas de Campinas no último domingo, 26

Apesar disso, ao final do evento, um show programado para o grande encerramento da festa foi proibido pelos policiais sob pena de multas no valor de R$ 5 mil. Às 17h, parte das pessoas presentes se reuniu nas dependências da lanchonete “Sucão”, tradicional point LGBT da cidade.

Chamados por uma suposta denúncia de “perturbação”, a PM foi acionada e, segundo denúncias feitas por vídeos e relatos, deu-se início à dispersão do público por meio de bombas de gás, balas de borracha e spray de pimenta. Seis pessoas foram detidas, autuadas no 1º Distrito Policial e liberadas em seguida.

Em entrevista ao portal G1, o Comandante de Batalhão da Polícia Militar, tenente coronel Marci Elber Maciel Rezende da Silva, alegou que a ofensiva teve início após a polícia ter sido atacada por pedras.

Organização lamenta omissão da prefeitura e recorrerá à Justiça

Por telefone, a redação do Catraca Livre conversou com Douglas Holanda, que integra a comissão organizadora da Parada e resumiu os trâmites que envolveram a realização do evento. “Conversamos com a prefeitura desde fevereiro. Todas as autoridades envolvidas, Polícia Militar, Ministério Público e Guarda Municipal, se manifestaram contra por justificar que o evento não cumpre os requisitos básicos de segurança. Além da falta de contingente policial para proteção. Na semana passada recebemos a informação de que a prefeitura não nos apoiaria e, por isso, nos organizamos sozinhos”.

Nos últimos dias, Douglas afirma que os organizadores receberam inúmeras denúncias de violações policiais, por meio de vídeos e depoimentos – ( segundo relato de uma pessoa agredida, os policias chamavam os participantes de “viados”, e proferiam palavras de ordem “tem que estar em casa e não na rua fazendo viadagem”).

O grupo anunciou, por meio de coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira, 28, que entrará com representação judicial contra o governo do Estado após os incidentes do último domingo.

Questionado sobre os percalços enfrentados pela comunidade LGBT, não só de Campinas, mas ao redor do mundo, Douglas lamenta o episódio e reflete: “É triste, a gente tenta conscientizar, conversar, mas é difícil. Como uma amiga costuma dizer, hoje a gente tá apanhando. Apanha todo dia, da igreja, do governo, da prefeitura, dos civis. Mas e no dia em que começarmos a bater?”.

Confira vídeo que registra a ação dos policiais nas ruas de Campinas: