Saiba por que a campanha #GreveDosHomens é um close errado
Por Fernanda Miranda e Heloisa Aun
A marca de roupas masculinas Aramis Menswear está à frente de uma campanha chamada #GreveDosHomens, que foi criada com o objetivo de estimular as mulheres a fazerem exames de prevenção contra o câncer de mama.
Este mês é marcado pelo movimento Outubro Rosa, que promove a participação da população no controle do câncer de mama. A data é celebrada anualmente desde os anos 1990 e ajuda a compartilhar informações, além de promover a conscientização sobre a doença.
Idealizada pela agência We, a peça publicitária mostra homens chantageando suas mães, filhas, namoradas e avós caso elas não façam o exame. “Aparar o bigode? Desligar o videogame? Nem pensar. Vamos começar uma birra do bem. Vamos vencer na pirraça”, diz o texto.
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A campanha ainda convida os homens a compartilharem nas redes sociais, com a hashtag #GrevedosHomens, o que eles não farão caso as mulheres não se previnam. Assista ao vídeo de lançamento da ação:
https://youtu.be/FdHvKIfiqeg
Embora tenha sido elogiada pela intenção, algumas questões começaram a ser feitas pelos seguidores da marca nas redes sociais.
Por que uma campanha contra câncer de mama é criada e protagonizada por homens, sendo que é o tipo de câncer mais frequente entre as mulheres? Por que a conscientização precisa ser feita a partir de chantagens emocionais e que “brincam” com a saúde feminina?
Para tentar esclarecer a polêmica, o Catraca Livre elencou alguns motivos pelos quais a #GreveDosHomens é um close errado. Confira:
[tab:O nome da campanha: #GreveDosHomens]
Outubro de 2016 está sendo um mês simbólico para a luta feminista. Na semana passada, na Argentina, mulheres decretaram greve de uma hora contra o feminicídio, a violência de gênero e a discriminação no mercado de trabalho.
O protesto foi movido pela morte de Lucía Pérez, uma jovem de 16 anos que foi drogada, estuprada e empalada na cidade de Mar del Plata. Alguns dias antes, polonesas decretaram greve geral para protestar contra um projeto de lei no país que, na prática, acabaria com a possibilidade do aborto.
Portanto, é impossível não associar a chamada “Greve dos Homens” da campanha publicitária com o momento em que mulheres vão às ruas fazer greve e exigir o direito de ter controle sobre seu próprio corpo. A campanha se apropria da luta histórica feminista para promover uma ação machista que só reforça estereótipos.
A frase acima reforça a sociedade patriarcal e machista em que vivemos. Mais uma vez, a publicidade reproduz a ideia de que a mulher precisa ser protegida e cuidada pelo homem, em uma relação de dependência.
Para a ativista feminista Clara Rocca, a ação foi extremamente ofensiva. “Sinto informar aos envolvidos nessa campanha ofensiva, que não, não precisamos que vocês nos salvem! Aliás, precisamos que vocês parem de nos matar, estuprar, de tratar a gente como indefesas, idiotas, tontas”, escreveu em seu perfil no Facebook, pedindo esclarecimentos à marca.
O câncer de mama é o tipo de câncer que mais afeta mulheres no Brasil e no mundo, respondendo por cerca de 25% dos casos novos a cada ano, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer.
Discutir a detecção precoce da doença requer sensibilidade, cuidado e informação, ao contrário do método de chantagem emocional sugerido pela campanha.
Além disso, o tom de humor usado pela peça deslegitima a importância de disseminar os temas relacionados à saúde feminina.
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A reportagem tentou entrar em contato com a Aramis Menswear e a agência We para solicitar esclarecimentos sobre a campanha, mas não obteve retorno até a publicação desta nota.
Veja os comentários nas redes sociais:
#GreveDosHomens, também conhecida como mansplaining… porque realmente é necessário um homem nos dizer o que fazer, senão, não o faremos.
— Jessie Beu (@jessie_beu) 25 de outubro de 2016
que vergonha alheia#grevedoshomens
¬ ¬
— Ivana Almeida (@milkingastone) 25 de outubro de 2016