‘Se eu chegar ao segundo turno, eu levo’, afirma Eymael
Candidato contou a história do jingle mais famoso da política brasileira
É alguém começar a cantarolar “Ey, Ey, Ey” que a pessoa ao lado certamente vai completar com “mael, um democrata cristão…”. Mas qual a história por trás do jingle mais famoso da política brasileira? O gaúcho José Maria Eymael, 78 anos, o candidato a presidente nestas eleições que mais vezes concorreu ao cargo (1998, 2006, 2010, 2014 e 2018), aceitou o convite da Catraca Livre e falou, além da tradicional música de campanha, sobre sua participação na elaboração da Constituição, que completa 30 anos em outubro, reformas, educação, segurança e corrupção.
O presidenciável da Democracia Cristã também explicou por que insiste em se candidatar, disse o que faria se pudesse enfrentar os atuais líderes das pesquisas de intenção de voto — Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) — e mais: afirmou que se considera o melhor candidato ao Planalto e que, se for para o segundo turno, bate qualquer um dos seus adversários.
Confira os principais trechos da entrevista com Eymael:
Catraca Livre – Entre os candidatos à Presidência hoje, o sr. é o que mais vezes disputou o cargo. O que mudou nas campanhas de lá pra cá? E o que o faz insistir na disputa?
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José Maria Eymael – A democracia cristã tem 73 anos no Brasil. Em 1962, me filio à Juventude Democrata Cristã em Porto Alegre. Em 1965, acontece a primeira tragédia da Democracia Cristã no Brasil, que foi o Ato Institucional nº 2 da ditadura militar, que extinguiu os 13 partidos políticos brasileiros, e o PDC era um deles. Depois disso, a gente fica 20 anos fora do cenário político brasileiro.
Em 1985, foi refundada a democracia cristã por um médico do Rio de Janeiro. Sou convocado para ser presidente do partido e candidato a prefeito de São Paulo. 1985 foi um momento mágico: primeiras eleições diretas nas capitais, depois de 20 anos de prefeitos nomeados. Em 1998, eu era candidato a presidente pela primeira vez, na tarefa da reconstrução da democracia cristã. Em 2002, cometemos o erro de não disputar. Fui candidato de novo em 2006, 2010 e 2014 com essa tarefa. Claro, sempre almejando a conquista da Presidência, mas a missão é reconstruir a democracia cristã.
A grande mudança [nas campanhas] é o surgimento forte das redes sociais. Eu tenho uma fanpage oficial. Agora, por exemplo, surgiu no YouTube uma multidão cantando o jingle na praia. Tinha 2,6 milhões de visualizações! A participação nas minhas redes sociais é muito forte. É o grande fato novo. Qual tempo eu tenho na TV? 8 segundos. O que você fala em 8 segundos?
Seu jingle é dos anos 80 e faz sucesso até hoje. Qual a história dele? Como foi criado?
Foi nas eleições de 1985. Nós estávamos numa sala, num grupo pequeno, numa reunião. Deste grupo, fazia parte o José Raimundo de Castro, hoje membro da Executiva Nacional da DC, que é alfaiate, mas um compositor de música popular. A alfaiataria dele continua até hoje no mesmo lugar, numa galeria da rua 24 de Maio [no centro de São Paulo].
E a reunião estava indo para o final com uma certeza absoluta: “Eymael, você pode ser candidato com qualquer nome: J.M., J. Maria, mas nunca, jamais, com o nome de Eymael. Nome difícil, tem esse ‘y’ no meio para complicar, ninguém vai saber falar, escrever, muito menos”. Aí, então, o Castro ergue o braço e diz o seguinte: “Mas também tem uma coisa. Se a gente ensinar o povo a dizer ‘Eymael’, o povo não esquece mais. Vocês me dão dois dias para eu tentar encontrar um jeito?”. Só para não magoar um companheiro, só para não machucá-lo, eu disse: “Tá bom, Castro, você tem os dois dias”.
No final dos dois dias, lá pelas cinco horas da tarde, ele conta que pediu para um funcionário dele segurar o telefone, naquele tempo não tinha telefone sem fio. Ele pega o violão e canta pra mim. Quando terminou de cantar o jingle, eu disse a ele: “Castro, a partir de hoje, devo a você minha história política”. Eu senti que ele tinha criado algo de gênio. A genialidade dele foi ver no “Ey”, o “ei” brasileiro. Aí juntou o “mael”, mostrou que era fácil dizer “Eymael” e aproveitou para dizer o que o Eymael era: um democrata cristão. É o jingle de maior sucesso da história política do Brasil.
Qual é o principal problema do Brasil hoje? Como resolvê-lo?
O maior problema do Brasil é a falta de desenvolvimento. O próximo presidente da República tem de ter uma obsessão: não é compromisso, não é meta. Tem que transformar o Brasil em nação-potência, com desenvolvimento pleno. É só o desenvolvimento que gera renda. A primeira ferramenta para isso é a reforma tributária. Criar um sistema tributário mais simples, mais justo. Hoje temos um sistema tributário perverso, que esmaga empresas e impede o Brasil de crescer. Outro problema grave é que as pessoas que precisam deixar o aluguel não compram casa própria porque não conseguem poupar para dar uma entrada. Apresentamos uma proposta de financiamento 100% da casa própria sem entrada.
Com que dinheiro, candidato?
Hoje o governo gasta uma fortuna com auxílio-aluguel ou auxílio-moradia. Você compensa essas duas coisas e financia tudo pela Caixa. O risco é zero, porque a garantia é o imóvel.
Qual sua avaliação dos candidatos na ponta da corrida pelo Planalto, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad? Quem o sr. vai apoiar no segundo turno?
Não faço comentários de mérito sobre os candidatos. Agora, tenho absoluta convicção que, se eu chegar ao segundo turno, eu levo. Sou autor de todas as conquistas dos trabalhadores [na Constituição]. Para nós, da democracia cristã, o trabalhador tem o direito de viver a vida, não só gastá-la na rotina de nascer e trabalhar.
Num debate com Bolsonaro, [perguntaria]: “Você tem quase 30 anos como deputado. O que você fez pelos trabalhadores?” Para o Haddad, a mesma pergunta. É verdade que, na Constituinte, o PT queria [jornada] de 40 horas, não passou, e me apoiou nas 44 horas. Mas os avanços sociais dos trabalhadores são da democracia cristã, não do PT. O PT deu uma contribuição efetiva no governo Lula: Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida Luz para Todos. Mas seria muito interessante esse debate…
O sr. foi um dos deputados que participou da Assembleia Constituinte. Os direitos assegurados pela Constituição, que completa 30 anos agora em outubro, correm algum risco?
Nós temos a Constituição que assegurou o maior período democrático do Brasil. O próprio Ulysses Guimarães dizia: ela não é perfeita. Modificá-la, tal, é possível. Descumpri-la, não. Temos que cumprir e fazer cumprir a Constituição. Isso tá muito ligado à igualdade de oportunidades. A Constituição fala: saúde é um direito de todos e dever do Estado. A educação é direito de todos e dever do Estado. A segurança é dever do Estado. Isso que temos que exigir.
Qual sua avaliação da reforma trabalhista aprovada pelo governo Temer?
Eu acho que a reforma trabalhista cometeu um pecado grave, que foi a extinção abrupta do fundo sindical, sem uma fase de transição. Claro que o fundamental é que a receita do sindicato seja a contrapartida da sua prestação de serviço. Mas não podia acabar de uma hora pra outra. Na negociação da reforma da Previdência é a mesma coisa: não houve uma proposta inteligente de transição. Sobre Previdência, não defendo a capitalização, acho que isso não funciona. Defendo o modelo atual, mas com os recursos ficando na Previdência. E precisamos cobrar os bilhões dos grande devedores. São bilhões que não são cobrados! Tem que ter mudança nos termos atuariais, o modelo foi elaborado quando a perspectiva de vida era muito menor, então tem que ter um equilíbrio atuarial, a elevação da idade mínima [da idade para se aposentar], com um amplo debate com a sociedade e uma transição inteligente.
O sr. concorda com a prisão em segunda instância?
Isso fere a Constituição Federal. Eu assinei a Constituição e tenho que ter uma posição de acordo com o que diz a Carta. Constituição não é para ser interpretada, é para ser seguida e executada. O pessoal fala que isso foi só pra defender gente do colarinho branco. A defensoria pública de São Paulo recentemente falou o seguinte: com essa definição, quase 16 mil pessoas foram presas, todas elas sem a condição de contratar advogados famosos. A Constituição nossa é muito sábia.
Sobre seu plano de governo, a palavra “mulher” não aparece citada nenhuma vez. Por quê? O sr. não tem nenhuma proposta para combater a violência contra a mulher?
Mulher não aceita que se combine uma coisa e depois faça outra. Na democracia cristã a mulher é fortíssima. Como não falamos nada específico para homens, também não falamos nada para mulher. Nós nos dirigimos a todos os brasileiros.
Como candidato à Presidência, como o sr. avalia a legislação referente ao aborto?
Aborto: manter as três alternativas previstas na legislação de hoje: risco para a gestante, estupro e ausência de cérebro no feto.
O sr. foi citado por delatores da Odebrecht na Operação Lava Jato como tendo recebido doação para as eleições de 2010 por meio de Caixa 2. Qual seu comentário sobre isso? O sr. é a favor da Lava Jato?
Nós colocamos no nosso site essa delação. O inquiridor pergunta para quem entregou, ele não sabe. Onde entregou? Não lembra. A impressão que se tem é que alguém tem de justificar para onde foi o dinheiro e cita qualquer nome. As coisas estão tomando um caminho mais concreto: não basta a delação, tem de ter a prova. A Lava Jato é fundamental, foi uma mudança de página no Brasil. O trabalho dela não acabou: onde mexer, tem. É a sensação que a gente tem.
Qual sua proposta principal para a educação?
Temos uma proposta fantástica: Casas da Cidadania. Aproveitar espaços de entidades religiosas de todos os ramos para usar como creches, em parceria com o governo federal. Isso pode gerar milhares de creches pelo Brasil, porque, em todo lugar, por menor que seja a cidade, você encontra uma igreja, de várias denominações: católicas, evangélicas, espíritas, de religiões afrobrasileiras… Já tem o espaço, não tem que construir nada, vai gerar emprego também.
Sobre a questão de salário, de valorização do professor… Como você vai querer uma sociedade livre, justa e solidária se os nossos alunos são aprendizes de bandidos? Vemos professores sendo agredidos… Tem a ver com o enfraquecimento da família.
E sua proposta principal para a segurança pública?
Fui o primeiro candidato a propor a criação do Ministério da Segurança Pública, em 2010. Só se tornou realidade sete anos depois. É uma ferramenta fundamental para promover a integração das inteligências municipal, estadual e federal, na prevenção e no impedimento do crime e na punição dos culpados. O intercâmbio internacional com modelos bem-sucedidos… A questão do fechamento inteligente das fronteiras, com tecnologia, o uso das Forças Armadas. É pela fronteira que entram as armas e as drogas que matam nossos jovens.
Pinga-fogo (respostas “sim” ou “não”)
É a favor da liberação da maconha?
Contra.
É a favor da pena de morte?
Contra.
É a favor das cotas para universidade?
Sou a favor das cotas sociais.
É a favor da cobrança de mensalidade em universidade pública?
Contra.
É a favor da intervenção federal no Rio?
A favor.