Se meu ônibus falasse

O músico Vanderlei Lucentini, 51 anos, faz parte do escasso grupo de paulistanos que, apesar de dispor de recursos, não tem e nem pretende ter automóvel. “Nem tirei carteira de habilitação”. Mas, desde ontem, ele inovou o transporte público, ao implantar dentro de um ônibus – que vai percorrer por uma semana a avenida Paulista – um sistema de som especial. “É quase como se fosse uma sinfonia”, resume.

Um sistema computadorizado, conectado por GPS, reconhece determinado imóvel na Paulista e emite aos passageiros um emaranhado de sons, compostos por palavras soltas, ruídos, frases e melodias. “É assim que vou traduzindo a história daquele lugar.”

Na frente do local hoje vazio, onde era a mansão da família Matarazzo, por exemplo, aparecem ruídos ligados à industrialização misturados a uma melodia cantada por Maísa, que morou ali.

A “sinfonia” faz parte do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), que, a partir desta semana, apresenta uma série de intervenções ao longo da Paulista – o ônibus fará várias viagens por dia, saindo na frente do prédio da Fiesp.
Nascido na periferia de São Paulo, Vanderlei fez um curso técnico em mecânica industrial, mas preferiu ir aos  Estados Unidos estudar música e tecnologia. Voltou ao Brasil para compor trilhas sonoras para cinema, teatro, balé, além de uma série de experimentações em multimídia.

Trecho da coluna Urbanidade, pulbicada no jornal Folha de S. Paulo