Sírio é vítima de estelionato e perde restaurante no centro de SP
Campanha de financiamento coletivo pede doações para ajudar refugiados sírios a retomarem negócio; saiba como ajudar
Jadallah Al Ssabah, 42 anos, assim como os mais de 10,1 mil refugiados sírios que chegaram ao Brasil desde o início da guerra, deixou sua terra natal em busca de recomeço. Com pequenos bicos e muito esforço, conseguiu juntar suas economias e, após quatro anos, realizar o sonho de abrir o próprio negócio.
Em maio deste ano, alugou um pequeno espaço dentro de uma ocupação, no centro de São Paulo, em acordo com o brasileiro Eduardo Ferreira Lira – que, até então, mantinha um brechó de roupas há três anos no endereço. Passou a investir no restaurante em que venderia comidas típicas da cozinha síria, como shawarma, esfihas e outros pratos.
Durante 45 dias trabalhou dia e noite reformando o espaço – completamente destruído – onde investiu cerca de R$ 12 mil na reparação da parte elétrica, pintura, instalação de uma porta de ferro, demolição de paredes, luminárias, renovação do quadro de força e forros de gesso. Apesar do esforço e expectativa de mudança, Jadallah se tornaria vítima de estelionato – durante a negociação com o ex-proprietário, recebeu um documento falso referente ao local que, oficialmente, pertencia à prefeitura.
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Reintegração, truculência policial e repercussão nas redes sociais
Como consequência do imbróglio, o refugiado e seus sócios Yara e Yadel sofreriam um novo revés – desta vez, na última segunda-feira, 16, data de inauguração do restaurante, que nunca ocorreu. A pedido da subprefeitura Sé, policiais da Guarda Civil Metropolitana (GCM), e o agente vistor da regional, se dirigiram ao local para desocupar o restaurante instalado numa “área pública invadida”.
A ação ganhou repercussão nas redes sociais após a divulgação de um vídeo que denunciou a brutalidade dos agentes da GCM. Nas imagens, Jadallah tenta evitar a apreensão dos pertences quando é coagido de forma violenta pelos policiais.
Em nota, a Prefeitura Regional da Sé se posicionou sobre o assunto: “a medida foi necessária após constatação de não cumprimento do prazo de 15 dias para desocupação do imóvel. Um agente vistor da Regional esteve no local e intimou o proprietário para a desocupação no dia 26 de junho. Todos os pertences foram lacrados e armazenados no depósito da Regional Sé.
Para reaver os pertences, o responsável deve comparecer à Prefeitura Regional Sé, apresentar os contra lacres e abrir um processo com a solicitação. Quanto à ação da GCM, a guarda apoiou o trabalho dos agentes da Prefeitura Regional. A Corregedoria está à disposição para registrar eventuais queixas sobre a conduta dos guardas para apurar as circunstâncias em que ocorreu a abordagem”.
Procurada pela Catraca Livre, Marina Tambelli, que há anos oferece auxílio jurídico para refugiados sírios, e responsável pelo vídeo, comentou o episódio. “Imagine ter de fugir de seu país por conta de uma guerra; chegar em um novo lugar, com uma língua estranha, trabalhar por anos até juntar as economias para abrir um negócio próprio. Imagine a felicidade de quando esse dia chega. Mas, agora, imagine que logo depois, tiram tudo de você. Foi isso que aconteceu com os sócios Jadallah, Yara e Yadel”.
Após o ocorrido, advogados procuraram o Ministério Público para denunciar a situação vivida por Jadallah e seus sócios. Em entrevista ao Uol, Marina destacou: “A prefeitura não interveio, nem mesmo quando ele ainda estava realizando reforma no estabelecimento. Somente veio autuar como “invasor” de área pública no dia que ele abriu o estabelecimento. Jadallah realizou benfeitorias no bem público, com as economias que guardou desde que chegou ao Brasil e está correndo o risco de perder tudo em razão do golpe sofrido”.
Ajude Jadallah a recomeçar
Em meio à frustração e sensação de injustiça vivida pelos sírios, uma campanha criada na internet busca reparar os danos causados seja pelo crime de estelionato, seja pela ação da prefeitura que, além de impedir a inauguração do restaurante, apreendeu os pertences dos refugiados. A inciativa conta foi idealizada em parceria com o espaço político e cultural Al Janiah.
No texto de apresentação da campanha, Marina resume a situação: “Agora, sem saber por onde recomeçar, como recuperar o dinheiro gasto, pagar os empréstimos feitos, Yara, Yadel e Jadallah sentem que suas vidas desmoronaram. E repetem incessantemente que são pessoas honestas que apenas querem trabalhar”.
Para ajudar é simples: basta acessar a página do financiamento coletivo.