Taxista fotógrafo

16/03/2010 18:45

Para o motorista  de táxi Antônio Miranda Pereira, 49, a Vila Madalena é uma escola -mais precisamente, uma escola de fotografia. Não que ele fotografe o bairro em si -seu interesse é pela cidade toda-, mas é que foi ali que ele acabou por encontrar, conduzidos em seu carro, vários professores voluntários, com quem se aconselha.
“Comigo não tem foto digital, gosto mesmo é da película.”

Miranda nasceu na Vila no tempo em que meninos se banhavam nos córregos e jogavam bola nos campos de futebol que se espalhavam pelo bairro. Não havia barezinhos, artistas, designers, boêmios nem semáforos. Um bonde passava pela rua Fradique Coutinho, as pessoas dormiam cedo. “Quando eu era criança, minha paixão já era a fotografia.”
Filho de uma família humilde, Miranda acabou sobrevivendo com seu táxi -e esqueceu qualquer projeto artístico.

Até que, um dia, quando levava turistas para o Museu da Língua Portuguesa e, por acaso, tinha em seu carro uma máquina fotográfica, registrou a imagem de um mendigo que parecia estar morto.
“Quando vi a revelação, notei, surpreso, que eu tinha capturado uma extraordinária luz no rosto do mendigo.” A paixão voltou.

Uma das suas passageiras habituais, a fotógrafa profissional Lucy Felippe, estimulou-o a comprar uma máquina e deu-lhe as primeiras dicas. As conversas não se restringiram mais ao táxi. Eles passaram a encontrar-se periodicamente para tomar café em algum local da Vila.

Miranda insistia em não entrar na era digital. “Gosto de ver a foto que se revela lentamente, causa uma surpresa.” Para sua sorte, ele está ao lado da praça Benedito Calixto, com sua feira de antiguidades. “Ficava investigando as ofertas das barracas à procura de peças mais baratas.”

Quase sempre acabava encontrando alguma coisa. (Leia a coluna na integra no jornal Folha de S.Paulo)

Confira algumas fotos:

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