Soneto de Cláudio Manuel da Costa

(Leitor: Carlos Figueiredo)


Soneto

Dêstes penhascos fêz a natureza

O berço em que nasci! oh: quem cuidara!

Que entre penhas tão duras se criara

Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres, por emprêsa

Tomou logo render-me; êle declara

Contra o meu coração guerra tão rara,

Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano

A que dava ocasião minha brandura,

Nunca pude fugir ao cego engano;

Vós, que ostentais a condição mais dura,

Temei, penhas, temei que Amor tirano,

Onde há  mais resistência, mais se apura.