Tirar camisinha sem consentimento vira crime na Califórnia (EUA)

A prática conhecida como ‘stealthing’ passa a ser definida como agressão sexual

12/10/2021 11:26

A Califórnia tornou crime tirar a camisinha sem consentimento do parceiro durante o sexo. A lei, a primeira deste tipo nos Estados Unidos, foi sancionada na última quinta-feira, 7, pelo governador Gavin Newsom.

A prática conhecida como ‘stealthing‘ (“furtivo”, em tradução livre) passa a ser definida como agressão sexual.

Lei da Califórnia proíbe remover camisinha sem consentimento durante ato sexual
Lei da Califórnia proíbe remover camisinha sem consentimento durante ato sexual - Wavebreakmedia/iStock

Pelo texto da lei, de autoria da deputada estadual Cristina Garcia (Partido Democrata), comete agressão sexual quem “provoca contato entre um órgão sexual, do qual foi retirado o preservativo, e a parte íntima de outra pessoa que não deu consentimento verbal para a retirada do preservativo”.

A lei, no entanto, determina punições no âmbito civil, com indenizações a serem pagas pelo condenado à vítima. Mas não prisão.

Prática conhecida como ‘stealthing’ agora é considerada agressão sexual e pode estar sujeita a punições legais
Prática conhecida como ‘stealthing’ agora é considerada agressão sexual e pode estar sujeita a punições legais - Vlad Dmytrenko/iStock

“Estou trabalhando nesta questão desde 2017 e estou exultante que agora existe alguma responsabilização para aqueles que perpetram o ato. Agressões sexuais, especialmente aquelas contra mulheres de cor, são perpetuamente varridas para debaixo do tapete”, disse a deputada Cristina Garcia em um comunicado após sanção da lei.

Stealthing: o ato de tirar a camisinha sem consentimento no sexo

Stealthing é um termo em inglês que descreve quando um dos parceiros remove a camisinha durante a relação sexual sem o consentimento do outro. Essa prática, de tão frequente, tornou-se objeto de pesquisa nos Estados Unidos.

Um estudo publicado no periódico “Columbia Journal of Gender and Law” revelou que se trata de um “problema crescente” no país, e com maior incidência em casais heterossexuais.

“Entrevistas com vítimas indicam que a prática é comum entre jovens sexualmente ativos”, diz a autora da pesquisa, Alexandra Brodsky, no estudo.

Ela diz ainda que “além do medo de resultados negativos específicos como gravidez e DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis), todas as vítimas consideraram a remoção do preservativo sem seu consentimento como uma violação humilhante e desempoderadora do acordo sexual”.

Prática de tirar camisinha sem consentimento no sexo está sendo estudada nos EUA
Prática de tirar camisinha sem consentimento no sexo está sendo estudada nos EUA - Getty Images/iStockphoto

No estudo, uma das vítimas descreveu a prática como um “quase estupro”. Outra chamou de “flagrante violação do que tínhamos concordado”.

A defensora pública Arlanza Maria Rodrigues Rebello, coordenadora do Nudem (Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher) da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, diz, no entanto, que não considera o stealthing estupro, mas “uma deslealdade do relacionamento”.

“O fato de tirar o preservativo sem a autorização da mulher, por si só, não significa que tenha ocorrido estupro porque não houve uso de violência ou ameaça para que a relação sexual fosse obtida. Seria uma deslealdade do relacionamento, como se a mulher, por exemplo, parasse de tomar pílula anticoncepcional e não avisasse ao parceiro”, explica. Leia a reportagem na íntegra aqui.