Três jovens negros são mortos em ação da PM em Salvador

Familiares acusam policiais de execução; crime ocorreu na comunidade da Gamboa

02/03/2022 11:53

Uma ação da Polícia Militar da Bahia resultou na morte de três jovens negros na comunidade Solar do Unhão, que na Gamboa, em Salvador, na madrugada de terça-feira, 1.

Alexandre dos Santos, 20, Cleberson Guimarães, idade não revelada, e Patrick Sapucaia, 16, estavam em um bar da região e foram baleados. As informações são do UOL.

Alexandre dos Santos é um dos jovens mortos em ação da PM na Gamboa, em Salvador
Alexandre dos Santos é um dos jovens mortos em ação da PM na Gamboa, em Salvador - Reprodução/TV Globo

A PM disse, em nota, que os policiais foram recebidos a tiros após ir até o local verificar uma denúncia sobre homens que estariam armados em um estabelecimento comercial, por volta das 2h.

A nota da polícia diz ainda que trio foi morto em uma troca de tiros com os policiais, e que teria feito uma pessoa refém. Essa versão é contestada pelos moradores, que relatam que os PMs chegaram atirando e jogando gás lacrimogêneo em direção ao bar onde estavam os rapazes.

Familiares das vítimas afirmam ainda que jovens foram abordados, levados a um imóvel abandonado e baleados. Eles chegaram a ser socorridos ao Hospital Geral Estadual (HGE), mas já chegaram sem vida.

“Esses policiais pegaram o meu filho e os outros dois rapazes para matar. Se não fosse isso, eles não estariam encapuzados”, disse Silvana dos Santos, mãe de Alexandre, ao UOL.

PM alega que aprendeu armas e drogas com as vítimas que morreram em ação na Gamboa
PM alega que aprendeu armas e drogas com as vítimas que morreram em ação na Gamboa - Divulgação/PM-BA

“A polícia encurralou três meninos que nada deviam. Depois que mataram, eles [os militares] lavaram até a casa lá. Usaram lençóis que estavam em um varal e plantaram armas e drogas, como sempre fazem. Queremos que a justiça seja feita”, declarou uma líder comunitária.

Segundo a PM, foram apreendidos com os jovens três armas de fogo — um revólver calibre 38; duas pistolas, sendo uma de calibre .40 e outra de calibre 380–, drogas, celulares, uma balança eletrônica e R$ 172 em espécie. Familiares negam que os rapazes eram traficantes.

Protestos

Após a ação policial, um grupo de moradores fez um protesto na região nesta terça-feira,1. Entidades que fazem parte da ‘Articulação dos Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador’ também se manifestaram sobre as na Gamboa.

“A violência policial permanece como prática corriqueira e naturalizada contra moradores da Gamboa de Baixo. Os depoimentos de testemunhas apontam que as mortes dos jovens não foram decorrentes de resistência e que não houve qualquer reação ou troca de tiros. A polícia não agiu em legítima defesa! Afirmamos que toda pessoa tem direito à vida, ao devido processo legal e a um julgamento imparcial, sendo inadmissíveis execuções arbitrárias como aconteceu”, diz a nota.

Saiba como denunciar violência policial

Destacamos diferentes ferramentas de denúncia contra a violência policial. Além da agressão física, configura-se também pela intimidação moral, no uso ilegal e ilegítimo da força ou da coação. Seja por meio de órgãos públicos ou plataformas digitais, confira dicas sobre como denunciar violência policial:

Disque 100

Canal de comunicação que possibilita conhecer e avaliar a dimensão da violência contra os direitos humanos e o sistema de proteção, bem como orientar a elaboração de políticas públicas.

Ouvidoria de PM

Recebe denúncias contra policiais militares e civis que, eventualmente, tenham cometido atos arbitrários ou ilegais; Faz a apuração das queixas. A denúncia pode ser feita anonimamente, por meio de carta e-mail ou telefone.

Em São Paulo, por exemplo, a denúncia pode ser feita até online.

Corregedoria das polícias Civil e Militar

Criado para apurar desvio de conduta policial, órgão pode instaurar inquérito policial quando o crime é cometido por agentes de segurança e, neste caso, encaminhado à justiça comum.

Ministério Publico – MP

Tem como função processar infratores e fiscalizar ações de órgãos públicos envolvidos em investigação criminal, como polícia e órgãos de perícia.

DefeZap

Desenvolvido em 2016 pelas organização Nossas, a plataforma tem como objetivo dar visibilidade à questão da segurança pública e defesa dos direitos humanos.

A plataforma recebe denúncias de violência policial, realiza apurações preliminares e encaminha casos aos órgãos competentes. Conheça a plataforma.