Violência doméstica: mulher tem suas mãos decepadas pelo marido
Jovem havia sido ameaçada três dias antes pelo marido. Ao denunciá-lo para polícia ele foi apenas multado.
Margarita Gracheva, uma jovem russa de 26 anos, foi vítima de violência doméstica sofrida por seu ex-marido Dmitry Grachev. Ele deixou os filhos do casal no berçário, em seguida levou-a até um bosque próximo de Moscou. Lá ele prendeu a mulher com torniquetes e a sangue frio amputou as duas mãos dela com um machado.
Segundo a BBC Margarida implorou ao marido que não fizesse isso: “Ele me levou para uma floresta, um lugar isolado. E gritou: coloca suas mãos na árvore. Eu chorei, gritei, implorei para ele não me machucar. Então ele disse para eu não olhar, e começou a cortar minhas mãos”.
Depois de amputar as duas mãos de Margarida, Dmitry colocou a mão direita numa caixa e deixou-a junto de sua esposa num hospital. Em seguida, ele se entregou para a polícia russa. Sua mão esquerda foi encontrada depois na floresta quebrada em oito partes. Com isso, a mão foi reconstruída: as veias e a pele foram transplantadas numa cirurgia que durou 10 horas. Pessoas do mundo inteiro se sensibilizaram com o caso e fizeram doações que somaram R$ 243 mil para que a jovem pudesse comprar uma prótese biônica para a mão direita.
A jovem russa disse que três dias antes do incidente tinha sido ameaçada pelo marido que colocou uma faca em seu pescoço. Ela contou à Corporação Britânica de Radiodifusão que ele repetia: “Admita, você está me enganando ou não?”. Ela foi à polícia e imaginou que teria apoio deles. Diferente disso, o policial disse: “Vocês vão fazer as pazes, isso não é importante”. Com isso, o caso foi encerrado e dias depois ela teve suas mãos decepadas.
A única penalidade sofrida por Dmitry foi ter de pagar uma multa de 10 mil rublos, o equivalente a R$ 560 por ter ameaçado Margarida com uma faca. Ela disse à BBC: “A princípio, pensei que algo estava estranho. A polícia classificou meu caso como uma falta administrativa e não como crime. Você bate em alguém e é apenas multado”.
A violência sofrida por Margarida foi em dezembro de 2017. Somente no último, dia 15 de novembro que o ex-marido foi condenado a 14 anos de prisão e proibido de ver os filhos. Isto, depois de ter confessado ter cortado as mãos dela. Este caso reflete um sério problema de violência doméstica sofrida pelas mulheres russas. Os abusos que começam com agressões e espancamentos não são considerados pela polícia como violência e geram apenas uma multa ao agressor.
O país afrouxou o código penal em relação às leis de violência contra as mulheres russas. Em fevereiro do ano passado, o presidente Vladimir Putin sancionou uma modificação no código penal que eliminava algumas leis de punição em relação à violência doméstica. De acordo com essa nova legislação, se as agressões causadas a mulheres ou crianças deixarem apenas ferimentos superficiais, arranhões ou hematomas sem ocasionar lesões, elas são consideradas uma falta administrativa e não são vistas como crime. Somente em caso de reincidência, desde que a vítima consiga provar que foi agredida, é aberto um processo criminal.
A ONG Human Rights Watch (HRW) através de um relatório apontou que as alterações na lei deixariam as mulheres russas mais suscetíveis à violência doméstica. O governo russo por sua vez, apenas criticou o relatório sob a alegação de que ele não refletia a realidade do país. As mudanças fizeram com que ativistas protestassem nas ruas. Já que os dados no país são alarmantes: segundo estimativas policiais, mais de 600 mulheres são mortas por mês, dentro de suas próprias casas.