Violência policial faz nova vítima em SP
Terceira execução policial em menos de um mês relembra que São Paulo vive um apartheid social velado e ninguém responderá por isso
– Júlio César Alves Espinoza, 24 anos, morreu com um tiro na cabeça após ser perseguido por policiais na Zona Leste de São Paulo.
– Era domingo, ele voltava pra casa após um dia de trabalho. Um bico de garçom que fazia aos finais de semana para ajudar a investir na empresa de customização de canecas, que dois meses abrira com um amigo de infância.
– No bairro onde morava, Júlio era conhecido como “Graxinha”, apelido que recebeu aos 12 anos quando trabalha na oficina de carros do pai.
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– Júlio cursava o segundo ano de tecnologia logística em uma universidade particular da cidade. Era bom aluno e ostentava boas notas em seu boletim.
Nas últimas três semanas, três execuções policiais ganharam destaques nos noticiários e não causaram comoção nacional. Panelas não foram batidas, nem milhares foram às ruas em um país que cala, consente e apoia o genocídio da população negra, pobre, periférica. Na opinião deles, o que vale é o fim da violência. Afinal, os fins não justificam os meios? No primeiro trimestre deste ano, as polícias paulistas mataram, em média, duas pessoas por dia.
PM Justifica: ele não parou o carro, que foi atingido por 16 tiros
Em reportagem divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quarta-feira, a Polícia Militar alegou que o jovem não obedeceu a ordem de parar na avenida Presidente Wilson, zona leste da cidade, às 3h da manhã . Dada à perseguição, o carro foi atingido por 16 tiros. Um deles na cabeça de Júlio, que levado ao hospital mais próximo, não resistiu.
Ainda na entrevista, seu amigo e sócio, Gabriel D’Angelo, afirmou que a vítima acumulava uma dívida de R$ 459 em multas – todas por circular em horário de rodízio –e, que por isso, não pararia em o carro em caso de abordagem policial. Esta não seria a primeira tentativa de fuga, já que o carro era fundamental para ele e para família. “”Esse carro ajuda a família dele em tudo. Uma vez acabou a bateria, e o Julio ficou desesperado”, explicou o amigo.
Suposto revólver e substância branca: licença para matar
Segundo versão da polícia, militares e guardas-civis envolvidos no assassinato de Júlio, o universitário atirou contra eles. Na delegacia entregaram um revólver uma substância branca apreendidos dentro do veículo.
Na delegacia, os policiais e guardas-civis envolvidos na morte de Julio afirmaram que o universitário atirou contra eles. Também entregaram um revólver e uma substância branca que, segundo eles, teriam sido apreendidos dentro do veículo.
Versão contestada pelos familiares que repudiam a acusação. “Executaram meu filho. Isso de armas e drogas é invenção. Foi plantado”, diz o pai. “Sujaram a imagem da minha família, que é digna. Eu quero justiça”, afirma a mãe.
Lacunas marcam ação da PM e GCM
Outro levantamento realizado pelo jornal Folha de S. Paulo, também nesta quarta-feira, 29, aponta uma série de contraditórias evidências na versão “oficial” dos policiais envolvidos.
PMs dizem que o rapaz foi atingido após disparar em ao menos três momentos da fuga. O carro do estudante foi encontrado com ao menos 16 marcas de tiros.
Mas segundo testemunhas ouvidas pelo jornal, no local do crime, mais de 40 tiros foram ouvidos. Apesar disso, no registro policial, são especificados sete tiros de GCMs e oito de PMs. Outra lacuna é a demora da PM para informar a ocorrência. Foram quase duas horas até o caso chegar à delegacia.
Em entrevista ao jornal, o ouvidor da Polícia, Julio Cesar Fernandes Neves, disse que chama a atenção a quantidade de tiros no carro.”É um caso que a gente fica chocado com tanto tiro. Trata-se de um universitário sem passagem pela polícia”, afirmou. “A gente pleiteia sempre que [o suspeito] seja pego com vida”, completou.
De praxe, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) informou que investiga o caso e quepoliciais envolvidos foram afastados.