Dimenstein: Edir Macedo não contou o pior sobre educação das filhas

Em culto, bispo disse que as filhas foram proibidas de cursar faculdade antes do casamento

Raras vezes uma declaração de Edir Macedo, dono da Record e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, provocou tanta polêmica.

E raras vezes ele se desgastou tanto num público cada vez mais influente no Brasil: as mulheres.

O sonho das mulheres é ter cada vez mais autonomia –e isso significa cada vez mais educação.

Mas Edir Macedo diz que, para seguir o respeito a Deus, as mulheres devem estudar pouco para que não sejam a cabeça do casal.

Jair Bolsonaro e Edir Macedo no Templo de Salomão
Créditos: Reprodução/TV
Jair Bolsonaro e Edir Macedo no Templo de Salomão

“Você vai fazer até o ensino médio. Depois, se você quiser fazer a faculdade, você que sabe, mas até o seu casamento você vai ser apenas uma pessoa de ensino médio. Porque se a Cristiane. Vem cá, Cristiane. Se ela fosse doutora e tivesse um grau de conhecimento elevado e encontrasse um rapaz que tivesse um grau de conhecimento baixo, ele não seria o cabeça. Ela seria a cabeça. Não é isso? E se ela fosse a cabeça, não serviria a vontade de Deus”, afirma Edir Macedo, usando o exemplo da filha que estava no palco em um culto realizado por ele.

Macedo diz que “não existe família, não existe felicidade, se a mulher for a cabeça e o homem corpo. É fracasso”.

O problema de Edir Macedo e de muitos pentecostais é (infelizmente) ainda pior –muito pior. O problema deles é com as universidades.

Isso mesmo, universidades.

Muitos pastores reclamam abertamente que o ambiente universitários provoca em jovens evangélicos uma série de dúvidas sobre seus preceitos básicos.

Numa universidade, ninguém duvida da teoria de Darwin sobre a evolução.

Ou sobre Big Bang.

A diversidade sexual é estimulada: algumas universidades oferecem banheiros para qualquer gênero.

Não se fala em ideologia de gênero.

Ser gay não é pecado.

Deus não é apontado como centro da criação – até porque é uma questão de fé, não de ciência.

Nas universidades, empoderamento feminino nem é mais uma questão: é o óbvio.

Estudar numa universidade significa, por definição, exercitar a dúvida.

Ao contrário da fé, não existe ciência sem dúvida: suas verdades têm de ser provadas e experimentadas.

É, para muitos pastores, um ambiente “promíscuo”.

Mas qual alternativa?

Não existe? Deixar as meninas sem faculdade e, portanto, apenas esperando um marido?

Ou ficarem com os piores empregos.

Daí uma identificação entre o que Edir Macedo e a visão do governo Bolsonaro sobre as universidades: um centro de “podridão ideológica”.