Uma montagem mostrando duas fotos da atriz Vera Fischer vem sendo compartilhada por milhares de pessoas desde que foi veiculada em uma matéria do jornal O Dia no último dia 6. Flagrada ao embarcar no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, a atriz que tem 63 anos, aparece à vontade com vestido estampado, cabelos soltos e óculos escuros.

Montagem e chamada da notícia que diz que a atriz estava “irreconhecível”

Junto a um título que afirma que Vera “aparece irreconhecível”, a montagem mostra uma foto antiga e produzida, ao lado da foto recém-tirada em que ela aparece sem maquiagem. O texto ainda destaca o fato da gaúcha ter sido Miss Brasil.

Enquanto nas redes sociais pipocaram publicações de pessoas destacando o fato da atriz demonstrar marcas de que envelheceu (algo completamente natural para quem já passou dos 60 anos) e proferindo indelicadezas, muitas outras foram em defesa da loira criticando a falta de bom senso dos comentários.

Entre as pessoas que se manifestaram em apoio à atriz está Cauã Reymond. Em sua página no Facebook, o ator criticou a matéria do veículo carioca a qual se referiu como “pobreza de espírito reinante” e compartilhou um texto escrito pela jornalista Cora Ronay. O post do ator já possui mais de 160 mil curtidas e milhares de compartilhamentos.

De maneira simples, a jornalista dá uma aula de bom senso ao questionar a forma cruel com que as pessoas lidam com quem envelhece.

Leia na íntegra o texto de Cora Ronay:

“Desde ontem vejo essa montagem circulando pela internet. Sinceramente? As pessoas estão perdendo a noção de tudo: de civilidade, de bom senso, de educação e até da própria língua (se a Vera estava “irreconhecível” como foi reconhecida pelas pessoas que a abordaram para selfies?). Sim, Vera Fischer envelheceu. E daí? Não envelhecemos todos, na melhor das hipóteses? Não estamos todas — e todos — mais cheios de corpo e de rugas, um tanto mais gastos com o passar dos anos? Assim é a natureza dos seres vivos: o tempo deixa as suas marcas.

Não há nada de errado com a foto da direita — exceto o fato de estar sendo exibida junto à da esquerda. Numa se vê uma mulher no auge da beleza fotografada numa luz generosa, na outra uma senhora de 63 anos num flagrante feito de qualquer maneira.

Gostaria muito de desafiar a pessoa que achou que essa montagem é relevante sob qualquer aspecto a se submeter ao mesmo tratamento.
Ando cheia dessa cultura de celebridades, dessas não-notícias que não querem dizer nada, desse bullying constante de pessoas que a fama impede de viver como seres humanos normais, com direito a dias melhores e dias piores.

Ando cheia dessa cultura hipócrita que tem como únicos valores a juventude e a beleza, e que quando abre uma exceção para uma pessoa de mais idade — como frequentemente faz com minha Mãe — faz questão de ressaltar a sua “juventude”. Como se a juventude fosse a soma de todas as virtudes, e a velhice uma moléstia horrenda, que devemos evitar a todo custo. Ando cheia — CHEIA!!! — disso tudo, e de mais um monte de coisas que não dá nem para começar a enumerar.

Mas, por enquanto, vamos combinar uma coisa? Vamos deixar a Vera Fischer em paz, porra! E vamos deixar de ter preconceito contra a velhice, até porque, de todos os preconceitos idiotas, este é o mais idiota de todos: mais dia menos dia vamos todos, homens e mulheres, negros, brancos, pardos, azuis e amarelos, envelhecer.
Isso é, se tivermos sorte.”