‘Eu não quero ter filhos’, diz jornalista

“Mas você seria uma ótima mãe”, “Amor de filho é algo incomparável”, “Não faça isso, dê um filho ao seu marido”, “Para mim uma mulher sem filhos é uma mulher incompleta”, “Mas como vai ser na velhice? Vai ficar sozinha?”. Quem opta por não ter filhos certamente já ouviu algo parecido com isso.

Liberdade guia o poder de escolha de Milena

Para mim nunca foi um problema defender o meu ponto de vista, mas é inevitável pensar que as pessoas podiam apenas respeitar a minha opinião e não tentar me convencer de algo que eu afirmo não desejar. Afinal, eu nunca me dei o direito de dizer para uma mulher que sonha em ser mãe, para ela pensar em desistir da ideia.

Acredito que aí moram todas as respostas: no desejo pessoal de cada um. Eu tenho inúmeros motivos para não ter filhos, assim como milhões de outras mulheres têm maravilhosos motivos para tê-los. Acho a maternidade extremamente difícil.

Do parto em si às atividades que vão acompanhar as mães por muito tempo no processo de educação de um filho. Estive boa parte dos anos presa às crises psiquiátricas de minha mãe. Foram muitos momentos de dor, tensão, preocupação e noites mal dormidas. Durante esse período, dediquei pouca atenção à minha vida e tentei cuidar de minha mãe – e de mim mesma – , em uma posição invertida dos papéis. Sem dúvida isso influenciou a minha maneira de pensar, mas não encaro como um problema.

Além disso, filho custa caro. Isso significa, para uma família não abastada, ter de abrir mão de muitas coisas para poder atender as necessidades de uma criança. Olho para muitas famílias e o que vejo são pais que passaram a vida inteira trabalhando para dar o que de melhor podiam aos filhos, e que por esse motivo pouco usufruíram da vida.

Outro ponto é o tempo. Ter filho é saber que ao menos nos primeiros anos de vida ele vai depender integralmente de você. Comer, dormir, tomar banho, ler, assistir TV e tudo o mais só será possível naquela pequena brecha de tempo entre cada uma das tarefas que uma mãe exerce. Decidi que não quero isso para minha a minha vida.

Passei anos fazendo uso de anticoncepcional e recentemente decidi parar. Desde então a tabelinha e a camisinha não são suficientes para afastar o fantasma da gravidez indesejada. E se acontecer? O que fazer?Ter um filho que eu nunca quis ou abortar e me sentir culpada para o resto da vida?

Ter de fazer uma das duas opções me apavora, por isso ultimamente tenho pensado bastante na esterilização como um direito de propriedade sobre o meu próprio corpo. Muitas pessoas ainda consideram egoísmo o fato de uma mulher não querer ter filhos, mas eu discordo. Acho que é preciso desmistificar a ideia de que toda mulher se realiza ao ser mãe.

Não me culpo por querer viver minha vida de uma forma diferente do que muita gente acredita ser a melhor, por querer manter a liberdade das pequenas coisas, que me são tão importantes e me fazem tão feliz: o silêncio, a tranquilidade, a possibilidade de fazer o que eu quero, na hora que eu quero.

Acho que todos têm esse direito, é só uma questão de escolha. Penso que a maternidade é uma experiência única para quem a deseja, mas também acredito que há amor em tudo o que é feito com o coração. Para mim é isso o que importa.