5 livros com personagens gays

29/09/2014 14:17 / Atualizado em 06/05/2020 17:12

 
 
Apesar de mais presente do que antigamente, a literatura gay (livros com temáticas ou personagens homossexuais) ainda é escassa ou pouco divulgada. Justamente por isso, resolvemos criar uma lista com cinco obras que possuam personagens que se envolvem com pessoas do mesmo sexo.

 1 – “Interlúdio”, de James McSill 

Para Lázaro, um alegre adolescente de 17 anos, a vida era transparente e bela. Muitos sonhos, muitos planos traçados, e nenhum mistério. Quando o inesperado telefonema de um norte-americano, o Comandante Betts, arremessa-o ao obscuro mundo do mormonismo, onde nada é o que parece ser. Lázaro não só consegue se encontrar no lugar errado na hora errada, como envolver-se numa paixão obsessiva com o filho do comandante. Paixão esta, que vai tingir a vida de Lázaro de incontáveis desgraças por quase trinta anos e mais. Numa história que, na superfície, parece ser um conto de amor perdido e o desejo pelo reencontro, à medida que o enredo avança, você vai se deparar com o inusitado desejo de que a trama não termine com um final feliz. Quando nada é o que parece ser, as palavras ganham significados contrários. O texto de linguagem leve e fácil leitura, leva você a um passeio por areias movediças, em que, a cada parágrafo, mesmo olhando onde pisa, você vai se afundar na realidade surreal dos dogmas fundamentalistas de uma das seitas mais poderosas do mundo e nas suas práticas secretas. “Interlúdio”, quando uma aparente história de amor é uma velada história de terror. Deus pode lhe soprar caminhos, mas, a escolha de ser levado é, em última instância, sua.


 2 – “A Canção de Aquiles”, de Madeline Miller

Baseada na Ilíada, esta obra é uma reconstituição da épica Guerra de Troia. O tímido príncipe Pátroclo é exilado no reino de Fítia, onde cresce à sombra do rei Peleu e de seu extraordinário filho, Aquiles. Apesar de suas diferenças, os meninos logo se tornam companheiros inseparáveis. Os laços entre eles se aprofundam à medida que se tornam adolescentes e hábeis nas artes da guerra e da medicina – para desagrado e irritação da mãe de Aquiles, Tétis, uma cruel deusa marinha que odeia os mortais. Quando se espalha a notícia de que Helena de Esparta foi raptada, os homens da Grécia, ligados por um juramento de sangue, têm de partir para invadir Troia e salvar Helena. Seduzido pela promessa de um destino glorioso, Aquiles junta-se à causa. Pátroclo, dividido entre o afeto e o temor por seu amigo, acompanha-o. Mal sabem eles que os deuses do destino os colocarão à prova como nunca antes, exigindo deles um terrível sacrifício.

O livro traz outro viés à mitologia ao destacar uma profunda e confusa admiração entre Aquiles e Pátroclo, que mais tarde se torna uma intensa paixão.

 


3 – “Viagem Solitária”, de João Walter Nery

“Viagem solitária” conta a história de João W. Nery, o primeiro transexual masculino de que se teve notícia no Brasil. Especialmente dedicado a todas as pessoas que se reinventam para achar um lugar no mundo, narra a infância triste e confusa do menino tratado como menina, a adolescência transtornada, iniciada com a “monstruação” e o crescimento dos seios – que fazia de tudo para esconder -, o processo de autoafirmação e a paternidade.

São muitos os personagens dessa história: de Darcy Ribeiro, considerado seu mentor intelectual e um dos primeiros amigos a compreenderem-no, a Antônio Houaiss, que, sendo um grande defensor das liberdades democráticas, recomendou seu primeiro livro para publicação, Erro de pessoa: Joana ou João?, do qual foi prefaciador. História de dramas, incompreensões e lutas, Viagem solitária é um livro tecido de dor e de coragem e que anuncia, talvez, um mundo menos solitário para os “diferentes”, para aqueles que não se enquadram entre as maiorias… Por isso, caro leitor, o conselho do mestre Antônio Houaiss: “Leiam-no e humanizem-se”.


4 – “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde

O livro se passa em Londres, no início do século XX e conta com três personagens: Lord Henry, um bon vivant inescrupuloso e amoral; o pintor Basil Hallward, um artista até certo ponto liberto dos preconceitos da época, mas ainda zeloso de aparentar tê-los; e o jovem Dorian Gray, filho da aristocracia, rico e, sobretudo, muito belo. É com esses elementos que Oscar Wilde compõe o cenário de um dos mais importantes romances da língua inglesa da virada do século XX, “O retrato de Dorian Gray”.

Seduzido pela admiração que ele próprio causa nos dois amigos, e, sobretudo, pela própria beleza retratada por Basil, Dorian tem um momento do pacto faustiano: faz um juramento dizendo que daria tudo, inclusive sua alma, para que ficasse sempre jovem e belo. Assim, enquanto o retrato exibe todo o efeito de degeneração moral, e vai “envelhecendo”, Dorian mantém-se belo e jovem, apesar de toda vileza, das maldades e da falta de escrúpulos que vai adquirindo. Oscar Wilde desenvolve essa sua espécie de mito de Fausto com um estilo incomum, tiradas morais ferinas e frases que se tornaram lapidares na história da literatura mundial. A elegância da escrita, a crítica ao jornalismo da época e a crueza do julgamento da hipocrisia da sociedade o tornaram, no calor do lançamento, um clássico instantâneo, apesar da dureza com que foi recebido pela crítica literária e, claro, pelos moralistas de plantão.


5 – “Henry & June”, de Anaïs Nin

Tirado dos diários de Anaïs Nin (1903-1977), “Henry & June” é um relato íntimo do florescer sexual da autora. Cobre um só ano – dos últimos meses de 1931 ao final de 1932 – da vida de Anaïs Nin em Paris, período em que ela conheceu o escritor americano Henry Miller (que escrevia então Trópico de Câncer) e sua bela mulher, June. Anaïs Nin apaixonou-se pela beleza de June e pela escrita de Miller; logo iniciou com ele um affair que a libertou sexual e moralmente, minou o seu casamento (com o banqueiro Hugh Guiler, que ela chama de Hugo) e a levou à psicanálise. Mas todo o novo mundo do sexo que lhe fora desvendado, seu relacionamento com Hugh e com o primo Eduardo não bastavam para tirar da sua cabeça a feminina June…

Considerado por muitos o melhor livro de Anaïs Nin, Henry & June foi publicado na década de 1980, após a morte da autora. Não constou dos diários publicados em sete volumes a partir de 1969. Discute-se o quanto de ficção e fantasia ele contém – o que não tira em nada a força do texto de Anaïs; somente reforça a questão: não será a própria Anaïs a mulher misteriosa e complexa que a atraiu em June? Em 1990, o livro foi adaptado para o cinema, com Maria de Medeiros e Uma Thurman nos papéis de Anaïs e June.


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