A cidade está nua

por Ricardo Oliveros, publicado na Revista Efêmero Concreto (texto editado, para ler na íntegra acesse www.efemeroconcreto.com.br)

Os artistas Spencer Tunick, Pablo Saborido e Erica Simone mostram corpos nus ao público. Mas podemos dizer que o foco de suas obras não é o indivíduo em si, mas sim o espaço em que ele se insere. Em vez de dizer “o modelo está nu”, elas gritam “a cidade está nua!”, revelando, assim, certas questões do atual cotidiano urbano.

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Foto da série Nue York, de Erica Simone

O nu coletivo e o nu individual

Por diferentes razões – sociais, políticas, culturais, econômicas –, a distinção entre o que é público e o que é privado torna-se cada vez mais complicada. Pouca gente sabe, hoje em dia, o que pertence ao terreno de um e de outro. Ao mesmo tempo causa, consequência e “solução” dos conflitos urbanos, a construção de shopping centers e condomínios fechados, por exemplo, acabou transformando a cidade num local repleto de muros e câmeras de vigilância – e vazia de encontros e de visibilidade. Estamos tão enclausurados em nós mesmos que os outros – ou o Outro – são de certa maneira invisíveis no nosso dia a dia.

E é justamente o encontro – ou o contato direto, sem barreira alguma – entre homens e mulheres da cidade que o norte americano Spencer Tunick, ao registrar multidões de pessoas nuas em diversos locais do mundo, promove.

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Foto da série Construcción-Desnuda, de Pablo Saborido

Enquanto Tunick foca um coletivo, um aglomerado de pessoas peladas, Pablo Saborido, argentino radicado em São Paulo, retrata indivíduos desprovidos não só de roupas, mas também da tal convivência com o Outro. Na série Construcción-desnuda, ele mostra seres nus e solitários inseridos em lugares vazios e silenciosos de cidades como São Paulo, Buenos Aires, Barcelona, Paris e Jerusalém. Leia a matéria na íntegra

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Foto da série Construcción-Desnuda, de Pablo Saborido

*Ricardo Oliveros é jornalista, mestre em arquitetura e urbanismo e curador de artes plásticas.