A enciclopédia das tatuagens de cadeias russas

18/08/2015 16:03 / Atualizado em 06/05/2020 23:29
 
 

Em cadeias do mundo todo, tatuagens são parte do uniforme. Elas marcam o crime cometido e mandam mensagens cifradas para os colegas de cela. Na Rússia, por exemplo, um punhal atravessando o pescoço significa que o detento matou alguém na prisão e está disponível para realizar esse serviço a terceiros – por isso, se você vir esse cara andando na direção da sua cela, melhor correr.

Arkady Bronnikov é o maior especialista em iconografia de tatuagens da Rússia. Ele lançou recentemente uma coleção de cerca de 180 fotografias de criminosos detidos em instituições penais soviéticas. A coleção foi publicada pela FUEL com 256 páginas sob o nome Russian Criminal Tattoo Police Files, sendo provavelmente a maior coleção de fotos de tatuagens de cadeia publicada até hoje.

Entrei em contato com Damon Murray, cofundador da FUEL, para falar sobre o livro.

VICE: Por que vocês quiseram publicar esse livro?
Damon Murray: Na FUEL, publicamos anteriormente a série Russian Criminal Tattoo Encyclopaedia, além de Drawings from the Gulag e Soviets – então, há um padrão. Esses livros são baseados em desenhos de Danzig Baldaev, um guarda de prisão que documentou o fenômeno das tatuagens de criminosos russos durante sua carreira.

Foi durante a pesquisa para Soviets que cruzamos com um artigo sobre um policial aposentado chamado Arkady Bronnikov. Especialista sênior em medicina forense no Ministério de Assuntos Internos da URSS por mais de 30 anos, suas funções envolviam visitar as instituições correcionais nos Urais e na Sibéria. Foi aí (entre o meio dos anos 60 até o meio dos 80) que ele entrevistou, fotografou e reuniu informações sobre os condenados e suas tatuagens, construindo um dos arquivos mais abrangentes feitos até hoje.

Sabíamos que essa coleção única de material daria um livro fascinante e uma adição perfeita às nossas publicações anteriores. Ela toca o mesmo assunto, mas de maneira mais visceral.

 
 

Quanto tempo levou para coletar essas fotos?
Visitei Bronnikov em sua casa na região dos Urais, na Rússia. Tínhamos discutido anteriormente a possibilidade de fazer um livro, e ele, muito gentilmente, concordou em me explicar as fotos e discutir as complexidades do assunto em detalhes. Depois de alguns dias, ficou claro que havia material suficiente para fazer um livro significativo por si só. Então levei as fotografias para Londres e as escaneei.

As caveiras com os ossos cruzados nos ombros do prisioneiro indicam que ele estava cumprindo prisão perpétua; a garota levantando o vestido com uma linha de pesca, no braço esquerdo, é uma tatuagem geralmente feita em estupradores. 

 
 

Você tem alguma informação sobre os prisioneiros que foram fotografados?
Fora uma pequena seção no começo do livro, que reproduz vários arquivos reais da polícia, todas as informações reunidas sobre os criminosos são feitas lendo as tatuagens em seus corpos. Os crimes variam de casos sérios, como assassinatos e estupros, a ofensas menores, como furtos ou roubos.

Cada imagem carrega uma legenda detalhada explicando como as tatuagens individuais se relacionam a crimes específicos – por exemplo, uma mulher nua sendo queimada numa cruz simboliza uma condenação pelo assassinato de uma mulher. O número de lenhas no fogo embaixo da vítima denota o número de anos da sentença.

Que tipo de equipamento eles usavam para se tatuar?
A maioria das tatuagens era feita de maneira primitiva e dolorosa. O processo pode levar anos para ser completado, mas uma figura pequena pode ser criada em quatro ou cinco horas de trabalho ininterrupto. O instrumento de escolha é um barbeador elétrico adaptado, ao qual os prisioneiros… [Continue lendo e veja todas as fotos aqui.]