Câncer de mama: projeto combina fotos conceituais e depoimentos
Fotógrafa criou o projeto durante o seu tratamento em 2005. Além de exposição, fotos e depoimentos são distribuídos em cartões postais nos postos de saúde
A exposição”Toque-se! entre o medo e a luz”, da fotógrafa Dagma Castro aborda o câncer de mama com sensibilidade, refletindo sobre os sentimentos da mulher durante o tratamento.
Em 2005, a fotógrafa foi diagnosticada com câncer de mama. Do convívio com outras pacientes, ela percebeu que muitas campanhas não contemplavam toda a complexidade da questão.
Por isso, resolveu combinar imagens conceituais com o depoimento de mulheres em tratamento.
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Durante três anos, ela criou 18 imagens cenográficas e contou diversas histórias.
Confira a entrevista com a fotógrafa.
Catraca Livre: Como foi o tratamento do câncer de mama?
Dagma Castro: O projeto nasceu exatamente da minha experiência pessoal. Meu tratamento aconteceu em 2005, já fazem quase dez anos.
Após a quimioterapia, quando fiquei careca, iniciei o processo de radioterapia. Todos os dias, eu e outras mulheres em tratamento, íamos de Balneário Cambúriu até Blumenau em uma van da Secretária de Saúde.
Eu fiz 30 sessões de radioterapia e durante a viagem tive um convívio muito grande com as outras mulheres. Éramos em oito.
Um dia, uma delas estava chorando no canto. Ela me disse que o marido tinha visto ela sem a peruca pela primeira vez. Ela já estava em tratamento há 3 ou 4 meses, mas ainda dormia de peruca.
Nesse momento percebi como era importante abordar o tema além da prevenção. Falar da mulher em tratamento, das emoções que ela enfrenta. Todo o processo. O fato de estar fragilizada e das marcas que ficam no corpo, o medo, a forma como as pessoas olham para nós.
Queria que as mulheres ultrapassassem medos e preconceitos do outro. Assim conseguirão fazer um tratamento tranquilo e com chances de ser um processo suave.
Como paciente, aquilo ressignificou minha vida. Coisas grandes deixam de ter importância e coisas miúdas tornam-se relevantes.
CL: E por quê você resolveu começar a fotografar?
D.C: Eu vim da televisão, sou produtora. Eu tinha intimidade com a linguagem da imagem, mas imagem em movimento. Após o tratamento, fiquei um tempo parada. Meu marido é fotógrafo e exercitei esse olhar da imagem estática.
Resolvi fazer uso da linguagem publicitária, um pouco mais dura e conceitual. E durante três anos fui fotografando mulheres que não estavam em tratamento e também colhi depoimentos de mulheres em tratamento.
CL: E por quê a escolha de fotos conceituais?
D.C: Foi para chamar atenção. Eu queria lidar com emoções e sentimentos da mulher durante o tratamento. Se não fossem imagens conceituais, não conseguiríamos trabalhar essa linguagem mais artística com imagens dirigidas para pontuar essas emoções.
Cada imagem tem uma mensagem. Falam sobre liberdade, mutilação, do preconceito, amamentação, entre outros temas.
São fotos que falam sobre o corpo e alma da mulher. Tirar uma mama ou perder o cabelo tem grande significado para a mulher. As vezes ela não tem medo de morrer, mas sim de ficar sem cabelo.
Como a menina que despertou o meu interesse, ela tinha mais medo de perder o marido do que do tratamento ou de ficar sem a mama.
A exposição também transforma-se em cartões postais?
D.C: Eu senti a necessidade de tirar a exposição da galeria e levar para a rua porque nem todo mundo vai para galerias ou espaços expositivos.
As imagens se transformaram em cartões postais. De um lado a imagem conceitual e no verso, o depoimento real. Também trabalha a importância do autoexame e do diagnóstico precoce.
Em todas as cidades que a exposição vai, fazemos a produção dos cartões e distribuímos nos postos de saúde e para as mulheres da cidade.
A exposição foi realizada graças a Lei de Incentivo á Cultura de Balneário Camboriú.