CCXP: Painel mostra a força das HQs para o jornalismo
As histórias em quadrinhos têm a capacidade de criar realidades fantásticas em qualquer universo que a imaginação possa conceber. Mas um painel durante a Comic Con Experience lembrou que as HQs possuem um poder talvez ainda maior: o de retratar com um novo olhar a nossa própria realidade.
Com o quadrinista Alexandre De Maio e o escritor Ferréz, o painel “Jornalismo e a periferia nos quadrinhos” lembrou a longa simbiose entre jornalismo e quadrinhos, que, dependendo da sua definição de jornalismo e quadrinhos, até as pinturas rupestres em cavernas.
“Já no século 19 os quadrinhos falavam sobre o cotidiano em páginas sobre comportamento,” disse De Maio, que é autor de “Meninas em Jogo”, história em quadrinhos sobre a exploração sexual de meninas em Fortaleza, e a inatividade de autoridades e instituições para evitar isso. “Pesquisando a HQ vimos como funciona a pressão das famílias e como instituições como a delegacia da mulher simplesmente não funcionavam além da aparência.”
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De Maio lembrou a tradição do quadrinho jornalístico no Brasil e no mundo, passando por ‘Nhõ Quim’, de Angelo Agostini, e mais recentemente em graphic novels como ‘Maus’, de Art Spiegelman, ‘Palestina’, de Joe Sacco, e ‘Sendero Luminoso’, de Jesús Cossío.
“O quadrinho jornalístico segue as mesmas regras de todo o jornalismo, ética apuração e ser fiel aos fatos,” disse de Maio. “E a HQ ainda é uma forma de mostrar a realidade da periferia de uma forma que o texto comum não consegue dar conta.”
Voz à periferia e mortos pelo esquecimento
“Da periferia que vem o trabalho e o suor que vai cuidar da família da elite,” disse Ferrez, lembrando o poder dos quadrinhos e da literatura para dar voz a grupos marginalizados. “A periferia tem acesso à banca de jornal, mas não à livraria. Por isso é importante distribuição de informações sobre a vida dos quadrinhos ali. A periferia abraçou a linguagem dos quadrinhos por esse motivo.”
A questão da distribuição, ou falta de, quadrinhos independentes nacionais foi levantada pelos palestrantes. “A globalização faz com que a gente seja inundado pelos quadrinhos bons de fora, mas também os ruins e os muito ruins,” disse Ferréz. “Enquanto isso, temos aqui quadrinistas incríveis que são nossos vizinhos e ficamos cultuando os europeus.”
Ferréz lembrou o resgate do traço ao estilo de xilogravura de André Diniz em “Morro da Favela”, assim como o reconhecimento em prêmios internacionais de quadrinistas como Marcelo Quintanilha e Marcelo D´Salete. “Somos os ‘alternativos’ no nosso próprio país, quando lá fora o trabalho de brasileiros é muito reconhecido.”
Um sociedade que não valoriza a própria cultura está fadada a ser definida pela cultura dos outros. Talvez aí a grande importância de dar mais espaço ao jornalismo em quadrinhos, que mantém vivas as nossas histórias, mostrando as contradições e injustiças que existem debaixo do nosso nariz.