Controle de qualidade, revanchismo, diversão ou invasão de privacidade? Conversamos com quatro garotas para saber o que elas acham do app Lulu

Lulu tornou-se a nova febre entre as mulheres e chegou a sair do ar no início da semana (25/11) por excesso de downloads. E o Brasil já é o segundo maior usuário da ferramenta, perdendo apenas para os E.U.A.

26/11/2013 13:45

No aplicativo Lulu, as garotas podem dar notas para os homens em diferentes quesitos e incluir hashtags positivas e negativas que traçam o perfil do avaliado.

O aplicativo encontra os amigos do Facebook e permite a avaliação, que pode ser feita de acordo com o grau de relação, como ex-namorada/ficante, estou afim, já fiquei, amigo e parente.

Qual sua opinião sobre o aplicativo?
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Opinião

Revanchismo, machismo às avessas, diversão ou utilidade pública? O aplicativo divide opiniões. Conversamos com garotas que baixaram o aplicativo e perguntamos o que pensam sobre ele.

#UsaRider e #CurteRomeroBritto

A estudante Gabriela Capo, 21, acha que o aplicativo tem o lado sério e o engraçado. “Posso brincar com meus amigos e dizer que usam chinelo Rider e gostam do artista plástico Romero Britto, mas é preocupante ver rapazes levando a sério algumas avaliações”, comenta.

Ela concorda que o aplicativo acaba funcionando como uma objetificação do homem e inversão de valores, mas acha que não deve ser levado a sério. “Na vida ninguém deve se levar tão a sério, quem dirá num aplicativo bobo. As pessoas estão misturando a vida pessoal com a virtual em excesso”, disse Gabriela Capo.

Para a estudante o problema do aplicativo está em incluir homens que não autorizaram a exibição do perfil. “Não é legal sair julgando todo mundo, porque não gosto de ser julgada”, comenta.

Ela explica que não deixaria de sair com um rapaz pelas informações que viu no Lulu: “Jamais uma mulher vai ser basear em um aplicativo como esse”.

Liberdade ou machismo às avessas?
Liberdade ou machismo às avessas?

“Mulher como objeto”

A jornalista Paula de Paula, 27, baixou o Lulu por curiosidade e confessa que deu boas risadas e descobriu coisas que nunca havia imaginado. Mas para ela, qualquer aplicativo de “performance”, de homem ou mulher, é “bizarro e preocupante”.

“Acho que existe sim um componente de vingança por parte das mulheres, por terem sido traídas, magoadas, mas também acho que o sucesso do aplicativo remonta à discussão da mulher como objeto”, diz.

Para Paula, as mulheres foram tratadas como objeto toda a vida pelos homens, pela mídia, pela sociedade e tem que cumprir cruéis padrões de beleza e comportamento. E é isso que o Lulu faz com homens. “Além de ser triste constatar que a aparência, a padronização, a classificação seja algo tão valorizando a a experiência do Lulu pode dar espaço para a revanche mais machista do que nunca com o argumento de que estão dando o troco”, argumenta a jornalista.

Ela disse que não deixaria de sair com um homem por alguma informação do Lulu. “Espero que as pessoas não façam isso”, disse.

“Os homens estão incomodados”

Sara (nome fictício), 22, trainee, também achou o aplicativo engraçado. “Tem meninas que são verdadeiras, tem meninas que são tendenciosas”, explica.

Ela mesmo confessou que já “mentiu” no aplicativo: “Eu avaliei mais de 10 de amigos que estavam mal ranqueados e vieram choramingar pedindo ajuda. E não era necessariamente verdade”.

“Muitos homens estão ficando loucos, malucos, incomodados de verdade. E eu estou morrendo de medo que eles criem um para avaliar as mulheres”, comenta. Sara acredita que a maioria dos comentários femininos são mais leves, como “não liga no dia seguinte”, e não diretamente relacionados ao sexo.

Ela confessou que checaria o perfil de um rapaz no aplicativo por curiosidade e não como algo definitivo para um relacionamento.

Falsa sensação de poder

A jornalista Ana Carolina Andrade baixou o aplicativo porque o irmão queria saber o que estavam falando dele. “Tomei um susto quando descobri que estava avaliando os rapazes, sem autorização e de maneira bem bizarra”, comenta.

Para ela, os critérios pagar a conta da mulher é sinônimo de educação ou quem são os melhores de cama dão um falso sentimento de poder. “Você pode até achar que está dando o troco nos que homens que te sacanearam, mas está fazendo a mesma coisa ou até pior do que os homens”, comenta.

“Não queremos inverter quem oprime, a gente quer é acabar com a opressão”, concluí Ana Carolina.

Ana Carolina disse “não deixaria de sair, mas pensaria duas vezes se visse alguma classificação machista de um rapaz no Lulu”.