Em NY, caixas d’água são mais do que reservatórios
Por Anna Dietzsch, do Arquitetura da Convivência
Por muitos anos trabalhei em Nova York sentada de frente para uma grande janela que olhava o SoHo. Foi olhando essa paisagem que me enamorei dos tanques d’água sobre os telhados nova-iorquinos e pelos quais tenho grande fascinação. São tanques circulares construídos com tábuas de madeira encaixadas e abraçadas por cintas metálicas onde a própria água, ao encher o tanque, dilata a madeira e sela as frestas entre tábuas. Usam a mesma tecnologia desde o século 19, quando foram criadas por uma exigência da prefeitura. Eram tantos no enquadramento da minha vista que, cada vez que eu os contava, chegava a um número diferente.
Se apoiam sobre pernas delgadas de metal ou madeira e sem cerimônia sentam-se sobre cabeças e telhados, como grandes insetos, observando a cidade. No segundo andar do nosso escritório tínhamos um desses insetos, e nos sentávamos à sua sombra para almoçar nos dias de calor. Uma vez cheguei a medi-lo e a imaginar o projeto de um apartamento dentro dele. Uma vez abandonados, que outro uso poderiam ter? Outro dia vi que um morador de Tribeca se aventurou a transformar essa ideia em realidade e fez do seu tanque um pequeno apartamento.
Mas não estou sozinha na minha admiração por esses objetos e alguns artistas já fizeram deles objetos de sua arte. Em 1998 Rachel Whiteread, uma artista inglesa, transformou um desses reservatórios em um tanque de resina, que foi então colocado junto aos outros tanques existentes no bairro do SoHo em Nova York. Reluzia com o sol, numa linda visão ao mesmo tempo futurista e fantasmagórica. A escultura foi comprada pelo MoMa e hoje se encontra no telhado desse museu.