Fotógrafo registra história do blues e jazz em livro com imagens
O sonho de infância do fotógrafo e jornalista Sérgio Poroger se transformou no livro “Cold Hot”, que conta a história do blues e do jazz nos estados do sul dos Estados Unidos e será lançado no próximo domingo – 7 de maio – às 11h na 12ª edição do Festival Literário de Poços de Caldas, o Flipoços, além disso, tornou-se uma exposição com 20 fotografias no Metrô República.
O livro traz 66 fotografias coloridas da viagem do fotógrafo, que percorreu mais de 3 mil quilômetros e conseguiu de fato captar a imagem do som. Nas imagens, Poroger traz histórias curiosas como a fotografia do exato local onde Robert Johnson, músico de Blues, teria feito um pacto com o diabo, no cruzamento das estradas Rota 61 com a Rota 49 ou também a que está registrada no texto de apresentação do livro, chamada “Você Volta Amanhã?”.
“No primeiro dia do ano de 2015 fui conhecer ‘Wild Bills’, uma das melhores casas de blues na periferia de Memphis. Chegando lá me deparei com alguns homens e entre eles um que me chamou a atenção, era o dono do espaço, que logo rasgou meu sorriso e me disse “sorry man, hoje estamos fechados, você pode voltar amanhã? Será um dia especial. Miss Nick, do Mississipi virá para cantar’. Eu retornei na noite seguinte e quando saltei do carro, o mesmo homem me recebeu como ‘Deus’, rasgou novamente aquele sorriso e me disse ‘Welcome’. Ele e sua família, ao me verem carregado com câmeras e lentes, me trataram como verdadeiro Deus. E ali vivi uma das experiências mais fantásticas de toda minha vida”, declarou.
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Poroger conta também que aos 8 anos já colecionava compactos simples do The Beatles e sonhava em viajar de carro pelos Estados Unidos, mas foi só depois de se dedicar à profissão de fotógrafo por 10 anos que se jogou no projeto, unindo tudo que gostava: viagem, fotografia e música.
“Associei fotografia, road trip e a música. Coloquei o pé na estrada em dezembro de 2014 e durante 17 frenéticos dias, percorri mais de 3 mil quilômetros para fotografar a música, que até então era meu plano, porém, chegando à região escolhida e pesquisada por mim por mais de 1 ano – o sul – que é o lugar mais musical do país, me deparei com uma América do norte muito diferente daquela que estamos acostumados a visitar. Às vezes suja e pobre, às vezes grandiosa e cheia de vida. Percebi que até as pessoas eram diferentes … elas gostam de conversar e rir. Parece um lugar onde o tempo passa mais devagar”, revelou o fotógrafo.
Assim, ao voltar ao Brasil, resolveu que o contraste da região passaria a ser o grande tema do livro, algo que iria além da musicalidade a qual saiu para fotografar. “Daí surgiu o Cold Hot, o contraste entre as cores e os cenários, o quente e a energia da música e das pessoas e o frio das paisagens”, completou.
Cold Hot: a tradução de ritmos em imagens
A ideia do título do livro surgiu em um momento bastante peculiar e vivenciado pelo autor. Conforme ele conta, quando chegou em Clarksdale, no Mississippi, se hospedou no “Shak Up Inn”, um famoso conjunto de cabanas típicas da época da escravidão e que foram transformadas em hospedarias, bastante frequentadas por viajantes apaixonados por blues. “
“Ao entrar no banheiro, numa noite gélida vi, no box, a imagem das torneiras do chuveiro, com Cold e Hot escrito à mão. Assim que fiz a foto, sabia que seria o título do livro. Tinha certeza disso. Ali me lembrei do fotógrafo viajante suíço Robert Frank, autor do livro “The Americans”, nos anos 1940. Ele fotografava pessoas e objetos rotineiros e o que mais o atraia nos Estados Unidos, mesmo de antes de se mudar para lá, eram os banheiros e geladeiras. Isso ficou retido na minha memória”, contou o autor.
A obra vem acompanhada, além de fotografias, de poemas escritos tanto em português como em inglês. Segundo o autor, que desde muito criança sonhava em ser artista e emocionar o público, o livro cumpre este papel. “Eu queria isso, mas a vida de jornalista mudou os ventos e rumos e passei alguns anos com este desejo e sonhos congelados. Através da fotografia pude descongelar o artista e fazer, com este livro, o público se emocionar. Os textos alternam e mesclam a poesia com o lado informativo, quase jornalístico e documental”.
Recentemente, Poroger esteve nos Estados Unidos para lançar o livro e nesta semana teve uma exposição com as fotos lançada no Metrô República, em São Paulo (SP). A ideia é que a mostra percorra outras estações da cidade. No Flipoços, conversará com Patrícia Faria Bueloni, que é a produtora executiva da obra Cold Hot.
Poços é Jazz no Flipoços
Além do lançamento do livro de Sérgio Poroger e do bate-papo no festival, o evento literário traz também a apresentação musical com o grupo Cia. Estadual do Jazz, no dia 05 de maio às 20h, com entrada gratuita, mas com a doação de um livro em troca do ingresso.
Se apresentam na data os músicos Sergio Fayne, Fernando Clarck, Chico Pessanha e Reinaldo Figueiredo. O quarteto está na música desde os anos de 1960. A apresentação marca o lançamento oficial do evento Poços é Jazz Festival, que neste ano ocorre entre os dias 1 e 2 de julho de 2017 na cidade.
Também no dia 06 de maio às 16h o Flipoços recebe a mesa Literatura & Jazz, com os autores Reinaldo Figueiredo, da Cia. Estadual de Jazz e o músico poços-caldense Rodrigo Lee. A mediação é de Alexandre de Almeida, músico que também vive em Poços de Caldas.
Para Gisele Ferreira, diretora da GSC Eventos Especiais, empresa que criou e organiza o Flipoços, a literatura e a música estão em constante diálogo, daí a importância em trazer temas referentes a isso para o festival. “Literatura e música são artes muito próximas e já temos um público que é apaixonado por jazz, por blues, tanto que fazemos o festival Poços é Jazz e neste ano, já antecipamos um pouco, pro público sentir como vai ser”, disse.
A programação do Flipoços 2017 pode ser conferida no site do festival.