Glauco Mattoso: sonetos do sadomasoquismo ao cotidiano

"Depois que fiquei cego, ha quasi vinte annos, cahi numa crise existencial. Ou me mactava, ou me drogava, ou ficava louco"

20/06/2011 18:32 / Atualizado em 22/06/2011 14:36

Famoso por sua temática sadomasoquista e podólatra (fetiche por pés), o escritor Glauco Mattoso tem 4000 de seus sonetos disponibilizados online. Para conferir os poemas, basta acessar o Sonetodos, uma seção do site do escritor.

Glauco publicou, durante a década de 80, trabalhos em revistas como Chiclete com Banana e Top Rock, além de ensaios e críticas literárias no Jornal da Tarde. Depois de ficar cego em decorrência do Glaucoma no ano de 1995, ele se distanciou da literatura. Quatro anos retomou sua produção, dedicando-se mais ao soneto, mas sem deixar de produzir outros formatos de texto.

Glauco conversou com o Catraca Livre, a respeito da produção e disponibilização desse conteúdo, confira a entrevista na íntegra logo abaixo:

A pedido do autor mantivemos a grafia original de suas respostas, pois como este afirma “adopto o systema antigo, que vigorou até a decada de 1940, quando o Estado Novo reformou dictatorialmente a nossa escripta. Não acceito dictaduras em materia de cultura, nem em materia de nada, por signal”.

Quando e como surgiu a ideia de disponibilizar, gratuitamente, esses sonetos na internet?

Na verdade, o sitio chamado SONETODOS é um subsitio do meu sitio official, accessivel directamente ou pelo link do menu de entrada desse sitio pessoal. Tudo foi creado no anno 2000, quando eu ja estava cego, graças à ajuda de outro poeta muito familiarizado com o cyberespaço, o Elson Fróes. A idéa original era dar uma amostra de cada genero litterario que eu practico, mas, como acabei compondo mais de quattro mil sonetos (um recorde mundial), o SONETODOS ganhou dimensão de sitio autonomo.

divulgaçãoGlauco ficou totalmente cego em 1995
Glauco ficou totalmente cego em 1995

O que motivou a disponibilização deles?

Dois motivos. Primeiro, porque a tiragem dos meus livros sempre foi pequena, e a distribuição precaria. A rede virtual compensava essa marginalidade. Segundo, porque a quantidade de sonetos ficou tão grande que, actualmente, nem dez editoras me publicando ao mesmo tempo dariam conta de tanto material inedito… (risos)

Por que sonetos e não outra forma poética?

Depois que fiquei cego, ha quasi vinte annos, cahi numa crise existencial. Ou me mactava, ou me drogava, ou ficava louco. Fiquei louco, mas duma forma poetica, obcecado pelo soneto, considerado o typo mais perfeito e difficil de poema occidental. Sob effeito de bruxaria, descobri que a forma metrificada, rimada e rhythmada favorecia a memorização, e passei a compor phreneticamente, de cabeça, até que houvesse opportunidade de dictar a alguem ou digitar num computador fallante, desses adaptados para cegos, como a machina na qual estou teclando agora. Mas vale resalvar que, no menu do meu sitio, o SONETODOS é um entre varios links. Ha links tambem para conto, glosa, poemas livres, pois tambem escrevo nessas praias.