Lucas Santtana: discos que devastam mas também curam os ouvidos

Por: Redação

“Por causa da fúria de um Deus”, o músico, cantor e compositor Lucas Santtana lançou seu quinto álbum de estúdio e poesia. “Muito assustadoramente, revirou gavetas” e transformou tudo o que já tinha feito, até então, no disco “O Deus que devasta mas também cura”, que você baixa na íntegra aqui.

Para esse trabalho, misturou suas filosofias com samples de peças sinfônicas de Beethoven, Ravel e Debussy e fez praticamente um diário – no qual confessava as dores do mundo -, insinuando que “a massa está carente em busca de carinho”, como na faixa “Se Pá Ska SP”.

Se para muitos, o nome disso é tristeza, para Freud e para o músico baiano, chama-se melancolia “É um não estar acomodado no mundo. Faz parte do velho dilema existencial de todos nós”, explica.

Neste caso, o incômodo é com a indústria fonográfica que, na opinião do músico, colocou a MPB radiofônica num nível muito raso. “É uma verdadeira deseducação do ouvido do brasileiro, que sempre foi de alto nível, vide bossa nova e tropicalismo”.

Apesar de acreditar que a política está intrínseca na sua música e no seu disco, Lucas não acredita que ela possa ser considerada um protesto. “Às vezes levantar bandeiras é perigoso, porque depois você tem que ficar carregando aquilo pro resto da vida. Caso contrário vão te chamar de traidor”.

Confira o clipe da música “O Deus que devasta mas também cura” produzido pela “Cavalo do Cão Filmes”

Os ritmos afros brasileiros, o samba, o dub, o reggae, o rock e o funk

A carreira começou ao som do dub tropicalista de “Eletro Ben Dodô” que, em pouco tempo de circulação, já fazia parte da lista dos dez melhores CDs independentes, do ano de 2000, pelo The New York Times.

Depois veio, em 2003, seu segundo CD, intitulado “Parada de Lucas“, inundado pelo funk. Em 2006, veio o dub, o samba e o estilo jamaicano, marcando seu terceiro álbum, o “3 sessions in a Greenhouse”, que, na opinião de Lucas, foi o mais significativo: “O ‘3 Sessions’ foi um divisor de águas. A partir dele, descobri minha voz e o meu som”, reforça.

Como instrumentista, Lucas Santtana participou e enriqueceu a música de Chico Science e Nação Zumbi, Fernanda Abreu, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Como compositor, deu voz a Marisa Monte, Arto Lindsay, Adriana Calcanhoto e CéU.

Ao se consolidar na mistura do dub com a música brasileira, veio, em contrapartida, “Sem Nostalgia” (2009), feito – substancialmente -, de voz e violão, refutando qualquer tendência que o músico ameaçasse estar preso “Prefiro ser livre. É isso que pretendo com a minha música. Cada disco meu é diferente do outro”.

Já o último, “O Deus que devasta mas também cura” (2012), que é o verdadeiro motivo de tudo isso, nos aguarda um propósito, caoticamente simples: o de curar e devastar, ao mesmo tempo, ouvidos famintos de música genuína e brasileira.

Nesse caso, não nos resta dúvidas: não fosse sobrinho do monstro Tom Zé, Lucas Santtana seria, exatamente, a mesma coisa.