Conheça as intervenções urbanas do artista Guto Lacaz
Por Anna Dietzsch e Clarissa Morgenroth, do Arquitetura da Convivência
Em 1989 o artista Guto Lacaz colocou 25 cadeiras enfileiradas para flutuar no lago do Parque Ibirapuera, intitulando a obra de “Auditório para Questões Delicadas”. Quem passava por ali não entendia direito quem poderia vir a ocupar aqueles assentos e uma crítica de arte sugeriu que, vazias, as cadeiras evocavam “…a escassez de santos no Brasil”. Para nós a imagem evoca a impossibilidade de nos sentarmos nos espaços públicos da cidade e a escassez de gentilezas urbanas que tornariam a vida nas ruas de São Paulo mais confortáveis.
Em contraste, 350 cadeiras foram espalhadas em Rotterdam, na Holanda, no início de 2012, para que as pessoas pudessem usá-las como achassem adequado. Numa alusão às bicicletas brancas de Amsterdam, que simbolizam a vida compartilhada dos centros urbanos, as cadeiras foram colocadas em lugares públicos como parques, calçadas, canteiros e estações e podiam ser carregadas se depois fossem deixadas em outro espaço público.
Causaram estranheza e prazer, levando as pessoas a refletirem se ali não poderia mesmo haver um lugar permanente de descanso e apoio, que tornasse o uso do espaço mais fácil, mais ameno. De madeira torneada e palhinha, aludiam diretamente ao ambiente doméstico, à casa ou restaurante, e por não estarem chumbadas ou presas, ofereciam ao transeunte um convite mais individualizado, lembrando que alguém, num gesto de gentileza, as colocou ali.
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Compartilhar objetos móveis pode ser uma estratégia urbana forte e radical: a atual transformação de Nova York numa cidade mais pedestre, por exemplo, também começou com cadeiras dobráveis. E aqui em SP já há varias iniciativas baseadas nessa ideia do compartilhamento: você conhece alguma? Que outros objetos poderíamos compartilhar?