Na noite do dia 19 de março, durante a São Paulo Fashion Week, o estilista Ronaldo Fraga apresentou sua coleção para o Verão 2014. As peças foram inspiradas pelo futebol de várzea, mas seu desfile acabou marcado pelo uso de palha de aço no lugar do cabelo das modelos.

A escolha do material, símbolo pejorativo de cabelo crespo, gerou indignação. Por tratar-se de um produto opaco, feio, usado na limpeza pesada, a alusão não foi bem recebida, especialmente entre as mulheres. “Se grupos de cultura negra, que a vida inteira ouviram o seu cabelo ser chamado de ‘Bom Bril’, ‘palha de aço’ e ‘ruim’, se incomodaram com as perucas é por que eles têm uma vivência, provavelmente, diferente da sua.”, desabafa Dayane, colaboradora do blog Escreva Lola Escreva.

Protestos

Em protesto contra o uso da palha de aço na passarela, um grupo de modelos negras desfilou nesta segunda, 25, na Avenida Paulista. O evento foi organizado pela agência HDA Models, uma das primeiras agências segmentadas para modelos negros. As manequins usaram a palha de aço como tecido para as roupas e na cabeça, usaram turbantes coloridos.

Os Criadores

Quando questionados, Ronaldo Fraga e o maquiador Marcos Costa negaram intenções racistas. Costa publicou um comunicado em sua página oficial no Facebook, esclarecendo o assunto. “Nunca foi minha intenção ou de Ronaldo Fraga ofender ou discriminar quem quer que seja. A ideia para o look do desfile era ressaltar a beleza de cabelos que podem ser moldados como esculturas, não importando o fato de serem crespos. Depois de testarmos alguns materiais, o Ronaldo Fraga sugeriu a palha de aço. Foi também uma forma de subverter um preconceito enraizado na cultura brasileira. Por que o negro tem de alisar seus fios? Eles são lindos!”, declarou.