Ser fiel ao original é trunfo e defeito de Batman: A Piada Mortal

21/07/2016 16:58 / Atualizado em 14/10/2016 15:47

Lançado originalmente em 1988, a HQ “Batman – A Piada Mortal”, de Alan Moore, teve um peso gigantesco no mundo dos quadrinhos. A história foi extremamente influente na formação do Coringa, trazendo a sua história de origem (e talvez o seu destino), além de popularizar ainda mais as histórias maduras nas HQs.

Em “A Piada Mortal”, o Coringa rapta o comissário Gordon e o arrasta nu em uma montanha russa de insanidade em um parque abandonado, enquanto mostra imagens de um possível abuso sexual de sua filha, Bárbara Gordon, secretamente a Batgirl, que fica paraplégica no ataque. A ideia do Coringa foi provar como qualquer um poderia se tornar louco como ele. Bastaria um único dia muito ruim.

Há alguns anos foi revelado que a história icônica seria adaptada em uma animação, que chega agora aos cinemas nacionais em sessão única neste dia 25 (veja aqui a relação de cinemas). A versão animada de “A Piada Mortal”, que teve 16 mil ingressos vendidos, vai aparecer em 60 salas Cinemark no país, e é ao mesmo tempo fiel demais e não o bastante, em diferentes momentos.

Imagem de “Batman: A Piada Mortal”
Imagem de “Batman: A Piada Mortal”

O diretor Sam Liu teve que enfrentar um dilema ao fazer o filme: como mudar o que é considerado uma das grandes obras-primas dos quadrinhos? A resposta que ele encontrou foi: não mudar. Pelo menos quando a história chega na narrativa da HQ, tudo é transmitido praticamente quadro a quadro do original.

O curioso é que isso acontece quase na metade do longa, sendo que o começo é um prólogo sobre a Batgirl que praticamente não tem relação alguma com “A Piada Mortal”. Isso foi possivelmente uma tentativa de corrigir uma das críticas que o roteiro original recebeu, de Bárbara Gordon ser uma donzela indefesa usada de escada para o drama dos homens.

A primeira parte da animação é interessante e de fato dá mais espaço para a Batgirl, acompanhando sua relação com um vilão que fica obcecado por ela, assim como sua relação com Batman. O problema é que esse início não conversa com “A Piada Mortal” de fato, que aparece depois. Existe um outro arco e outro antagonista e tudo é tão diferente nesse começo que eles não parecem ser duas partes de um longa, mas dois curtas um depois do outro.

https://www.youtube.com/watch?v=iC8NdK2Cwd4

Visualmente, a qualidade da produção tem um nível semelhante ao da série animada do Batman da TV, com uma ou outra firula em 3D para deixar o visual mais bonito. O problema é que na telona do cinema os detalhes simplistas do traço do desenho ao estilo televisivo ficam muito evidentes. Parece que você está vendo um desenho mais longo de sábado de manhã e não uma animação cinematográfica.

Um ponto alto é a sonoplastia. A atuação de Mark Hamill como Coringa está de fato incrível e o filme mostra um grande cuidado com a qualidade dos sons, desde tiros até um simples barulho de chuva ao fundo.

No final, a animação “A Piada Mortal” fica em um estranho meio termo. Não sabe se é filme ou desenho, um longa ou dois curtas. É tão fiel ao original que mal dá um novo motivo para ser assistido pelos fãs dos quadrinhos, e muda muito em uma história não-relacionada. Vale assistir pela curiosidade, para fãs da série animada e pela atuação de Hamill, mas pode não ser a obra definidora que muitas pessoas esperavam.