Bolsonaro admite: seu filho está por trás do Twitter e Facebook
“Twitter, Facebook e Instagram não tomam nem 30 minutos do dia. Quem realmente me ajuda nessa coordenação é o Carlos Bolsonaro. Por isso muita gente quer afastá-lo de mim”, admitiu Jair Bolsonaro em entrevista ao jornalista Augusto Nunes ao falar sobre os 100 primeiros dias do governo.
Disse ainda:
“Ah, o pitbull? Tá atrapalhando o quê? Não me atrapalhou em nada. Acho até que devia ter um cargo de ministro. Ele que me botou aqui. Foi realmente a mídia dele que me botou aqui. E ele não tá pleiteando cargo de ministro. Poderia botá-lo, mas não pleiteando isso aí”
Essa influência já era sabida, mas não se tinha uma confirmação oficial.
Até ocorriam deslizes
O perfil de Bolsonaro publicou texto e foto sobre Carlos Bolsonaro.
O post falava sobre a tramitação da reforma previdenciária.
Não a reforma no Congresso.
Mas na Câmara de Vereadores do Rio, onde Carlos atua.
O post foi apagado, mas apenas aumentou a suspeita de que o filho era quem na verdade, controla as redes sociais do pais.
Esse é um segredo mantido que deveria ser mantido na família.
Havia sólidos indícios dessa intromissão, segundo investigação do The Intercept Brasil, a partir de um levantamento do Volt Data Lab, um projeto jornalístico especializado em análise de dados.
A análise de dados que sustenta a reportagem do The Intercept foi feita pelo repórter Sérgio Spagnuolo, editor do Volt Data Lab.
O assunto é explosivo, afinal, os tuítes de Bolsonaro têm provocado gigantescos desgastes, como o caso do vídeo pornográfico do Carnaval.
Mais uma gravidade: o perfil do presidente é oficial. Portanto, público. Não poderia ser feito por ninguém de fora do governo.
Trecho da reportagem, escrita por Alexandre de Santi:
Dias atrás, pedi para o jornalista Sérgio Spagnuolo, editor do Volt Data Lab, um levantamento sobre coincidências entre as duas contas em busca de indícios de que Carlos de fato está logado na conta do presidente (junto do Aos Fatos, Spagnuolo criou um arquivo dos tuítes presidenciais). O principal argumento a favor dessa tese é o número de retuítes: a conta do pai replicou as palavras de Carlos mais do que qualquer outra no último ano. Foram 97 retuítes de Carlos, quase 20% do total. Eduardo Bolsonaro, o outro filho e deputado federal, teve 47. Flávio, o primogênito-problema, das laranjas e dos amigos milicianos, recebeu apenas oito.
Para se ter uma ideia da dimensão da presença de @carlosbolsonaro em @jairbolsonaro, interações com o vereador representam cerca de 5% da atividade total do Twitter presidencial – nenhum outro perfil chega perto desse nível de engajamento.
O número não prova nada. Mas se Carlos, tido como o guru das mídias sociais do pai desde a campanha, de fato usa a conta do presidente com liberdade, faria sentido que aproveitasse o perfil de Jair para bombar seus próprios posts. Carlos tem 900 mil seguidores. O presidente, 3,3 milhões. É um belo empurrão.
Outro indício veio da análise da frequência e proximidade com a qual Carlos e Jair tuitam. O vereador e o presidente são homens ocupados, gastam o dia em reuniões e não podem passar o dia no Twitter como eu e você. Eles conferem as redes sociais em determinadas horas do dia. Então, se Jair e Carlos usam as redes sociais em intervalos próximos, temos um novo indício de que Carlos está operando o perfil do pai. Nessa hipótese, o vereador aproveita os minutos de folga para movimentar a audiência e conferir notificações das duas contas. A análise de Spagnuolo mostrou que a proximidade entre os tuítes dos dois é maior do que a de @jairbolsonaro com outras sete contas analisadas.
As contas de Twitter mais próximas de Jair Bolsonaro (a do Palácio do Planalto, do PSL Nacional, do vice Hamilton Mourão, do General Villas Boas, além, claro, de seus outros filhos Flávio e Eduardo) possuem publicações separadas, em geral, por 45 minutos. A grosso modo, isso significa que, num período de 45 minutos após a publicação de um tuíte de uma delas, as outras contas também fizeram publicações.
No caso de Carlos e do pai, esse tempo cai mais de 30%, para 32 minutos.
Um exemplo dessas tuitadas próximas ocorreu em 11 de janeiro. Às 10h57, Carlos disparou: “Antes que a imprensa publique, aqui vai: Amigo particular de Jair Bolsonaro desde 1974, General Leal Pujol assume o Exército hoje. Creio que o Presidente só deveria indicar inimigos para certos cargos! ?”. Um minuto depois, o “presidente” postou no Twitter uma frase de teor desavergonhadamente semelhante: “Peço desculpas à grande parte da imprensa por não estar indicando inimigos para postos em meu governo!” As duas mensagens foram publicadas com um iPhone, aparelho usado pelo vereador.
Outro caso suspeito aconteceu na demissão de Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Às 12h56 do dia 13, Carlos publicou uma mensagem acusando Bebianno de mentir que havia falado três vezes com o presidente e resolvido suas diferenças (o ex-ministro estava certo, e Carlos, errado). A conta do presidente retuitou a mensagem do filho às 22h31, dando ares de endosso à crítica do filho ao então ministro. A imprensa embarcou no suposto aval. A Folha de S.Paulo manchetou “Bolsonaro endossa ataques de seu filho a ministro Bebianno”. No Jornal Nacional, a repórter Delis Ortiz também disse que “o próprio Bolsonaro endossou a tese da mentira”